Em 2011, os países mediterrânicos eram o foco das atenções dos mercados e das críticas do centro da Europa. Agora, a situação é diferente porque os países do Sul são os principais contribuidores para o crescimento da economia europeia e as suas contas melhoraram.
A situação de França, que envolve dificuldades económicas, sociais, políticas e financeiras, tem gerado preocupações acerca da possibilidade de nascer uma nova “crise da dívida”, mais de uma década depois. Receia-se um descontrolo das contas que poderia contagiar o resto da UEM e resultar no fim da moeda única.
Ainda que reconhecendo a gravidade dos contextos francês e europeu, continuo otimista e os mercados parecem partilhar desta perspetiva. É certo que existe um “efeito França” nos mercados financeiros: a bolsa de Paris está a recuar 2% este ano, enquanto o Stoxx 600 valoriza 8% e o DAX alemão mais de 20%.
O “risco-país” de França, se medido pelo diferencial de taxas de juro a 10 anos face à Alemanha, alargou para máximos não vistos desde 2012, bem acima do de Portugal e Espanha. No entanto, não se pode falar de pânico. As taxas a 10 anos de França até têm vindo a descer nas últimas semanas, o mesmo acontecendo com o spread face à Alemanha. Também não há sinais de contágio ao resto dos países do euro.
Além disso, o BCE tem mais ferramentas para lidar com tensões nos mercados obrigacionistas e está numa trajetória de baixa de juros, o que ajudará a rolar a dívida. O BCE sabe que não deve deixar deteriorar a situação nos mercados.
Os governos europeus, muitos com o parlamento fragmentado, deparam-se com um dilema: se não cortam na despesa, a dívida dispara e os mercados ficam inquietos; mas se houver controlo orçamental apertado recorrendo a medidas impopulares, arrisca-se que outras forças políticas – potencialmente antieuropeístas – tomem o poder. A solução mais virtuosa será sempre a de promoção do crescimento económico, pois só assim se resolve o problema da dívida e do bem-estar das populações de forma sustentável. No curto prazo, o caminho a seguir será o de emagrecer os Estados sem prejudicar o crescimento e o emprego.
Aliada às dificuldades políticas, económicas e as associadas à guerra na Ucrânia, a presidência de Trump constitui uma nova ameaça ao projeto europeu. Mas, também por isso, a União já terá tomado consciência de que não se pode dar ao luxo de arriscar a sua existência e não deixará começar uma nova crise da dívida. Pelo menos é aquilo em que escolho acreditar.