A nova Estratégia Nacional de Segurança dos EUA consagra a orientação da política externa americana introduzida pela administração Trump, criticando o posicionamento de anteriores administrações que alargaram as áreas de prioridade estratégica de tal modo que quase nenhuma questão é considerada como fora do seu âmbito, e dizendo que “focarmo-nos em tudo significa focarmo-nos em coisa nenhuma.

Não é uma “nova” estratégia. É o retorno a uma visão restritiva do conceito de “interesses nacionais” que historicamente determinou a política americana.

O foco estará agora:

  • numa nova definição de “interesses de segurança nacional”
  • no reforço da capacidade dissuasora resultante do dinamismo económico, tecnológico, cultural e militar como garante da paz
  • na elevação dos critérios justificadores de intervenção em conflitos internacionais
  • num “realismo flexível” no relacionamento com países que tenham interesses divergentes
  • no primado da soberania nacional e das relações bilaterais
  • num “equilíbrio de poder” a nível global ou regional, com reafirmação da preeminência dos EUA no continente americano e definindo a China como principal adversário
  • na reconstituição da capacidade produtiva dos EUA para reduzir importações, limitando o acesso de estrangeiros ao mercado de trabalho doméstico e promovendo a competência e mérito por oposição a políticas de inclusão ou favorecimento de quaisquer grupos sociais
  • no estabelecimento de relações “justas e equilibradas”, com eliminação de défices comerciais e aumento do investimento dos aliados na sua própria defesa, rejeitando “as ideologias desastrosas de “mudanças climáticas” e net zero” que causaram grandes danos à Europa, ameaçam os EUA e subsidiam os nossos adversários

Podemos estar de acordo, ou não.

Mas a partir daqui as coisas mudam.

O processo de integração política e económica e as políticas ambientais e sociais e de regulação económica transnacional da Europa são acusados de “minar a creatividade e o empreendedorismo”, causar uma crise económica e demográfica e constituir ameaça à soberania e à liberdade política.

Decorre desta visão que o relacionamento entre a Europa e a Rússia (que deixa de ser considerada como uma ameaça directa aos EUA) seja desligado da reflexão sobre a realidade histórica, que demonstra a tradição expansionista russa, e a Europa é encarregue de se defender a si própria.

A Europa é acusada de manifestar “expectativas irrealistas sobre a guerra [da Ucrânia] assentes em governos minoritários instáveis, muitos dos quais espezinham princípios democráticos básicos para suprimir a oposição” e que ignoram que “uma grande maioria da população Europeia quer a paz, embora esse desejo não se traduza em políticas devido ao facto de esses Governos subverterem os princípios democráticos”. E afirma-se que “a diplomacia americana deverá continuar a defender a democracia genuína, a liberdade de expressão e a defesa inequívoca do carácter individual das nações europeias e da sua história. A América encoraja os seus amigos políticos na Europa a promoverem o renascimento deste espírito, e a crescente influência de partidos patrióticos é causa de grande optimismo”.

Ora, o modelo dos pequenos Estados-nação existiu durante séculos, e não permite criar qualquer barreira a expansionismos de terceiros, militar ou económico. Resta à Europa reforçar os esforços de integração, único capaz de lhe assegurar a paz, o crescimento económico e o bem estar.