Na Axians reimaginamos as cidades como um ecossistema integrado de serviços onde infraestruturas, segurança, conectividade, dados, mobilidade, saúde e educação se articulam para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Durante décadas, o conceito de Smart City dominou o imaginário urbano: cidades tecnologicamente avançadas, eficientes e automatizadas. No entanto, à medida que os desafios sociais, ambientais e demográficos se intensificam, torna-se evidente que a tecnologia, por si só, não basta. Surge assim um novo paradigma: a Cidade como Serviço (CaaS) — um modelo que coloca as pessoas no centro da transformação digital urbana.
Ao contrário da abordagem tradicional, onde os serviços urbanos operam em silos (mobilidade, saúde, educação), a CaaS propõe uma abordagem integrada onde os serviços urbanos são personalizados, acessíveis através de plataformas digitais intuitivas e desenhados com base nas necessidades reais dos cidadãos. A cidade torna-se um prestador de serviços personalizados, acessíveis através de uma interface digital unificada — uma espécie de “sistema operativo urbano”.
Na nova geração de cidades conjugamos tecnologia, dados e design. Esta tríade permite criar soluções mais eficazes, mais humanas e mais próximas da realidade de quem vive e trabalha nos territórios. Consideremos um cenário em que as populações mais idosas, através de uma única aplicação, conseguem agendar transporte adaptado, apoio domiciliário e entrega de medicamentos. Ou uma jovem família que, ao mudar-se para uma nova zona, é automaticamente identificada para acesso a creche, habitação e transporte escolar.
Para nós na Axians, estes não são cenários futuristas — são possibilidades reais, desde que se invista em infraestrutura tecnológica, interoperabilidade e redesenho de processos.
Contudo, esta transformação levanta desafios significativos: privacidade, segurança, equidade no acesso e a necessidade de garantir resiliência digital para evitar falhas críticas. A recolha e análise de dados em larga escala exige transparência, proteção dos direitos digitais e combate a vieses algorítmicos, sobretudo em sistemas de decisão automatizada.
Um dos principais desafios é o acesso à internet e a capacidade de usar ferramentas digitais. A inclusão digital é uma condição básica para a equidade no acesso aos serviços. Plataformas multilingues, literacia digital e conectividade universal — especialmente em edifícios públicos e habitação social — são pilares fundamentais.
É um problema complexo porque, se por um lado temos o crescimento da população, por outro temos o bem-estar dessa mesma população. Uma resposta transformadora passa pela tomada de decisões em tempo real, baseada em informação concreta — algo que só é possível com sistemas interoperáveis, seguros e sustentáveis.
Os edifícios inteligentes são um exemplo claro desta transformação. Deixam de ser apenas estruturas físicas, para se tornarem nós de serviços urbanos, com sensores, conectividade e espaços híbridos que acolhem trabalho remoto, serviços comunitários e apoio social. A sua gestão pode ser cocriada com os utilizadores, promovendo uma governança mais participativa e eficaz.
Portugal continental tem atualmente 581 vilas e milhares de aldeias. Não podemos falar em cidades inteligentes quando a nível nacional, temos tantas vilas e aldeias. Devemos sim falar em territórios inteligentes.
A tecnologia e os dados oferecem um enorme potencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas sem uma abordagem centrada na inclusão, vamos acentuar as desigualdades e corremos o risco de deixar para trás quem mais precisa.
Não vamos conseguir ter cidades, vilas ou aldeias verdadeiramente inteligentes se não conseguirmos compreender as pessoas que vivem nelas. Os territórios do futuro serão inteligentes, sim — mas serão, acima de tudo, territórios com pessoas.
A autora escreve na qualidade de responsável por estratégias de desenvolvimento territorial e transformação digital no setor público, com foco em inovação aplicada, políticas públicas e projetos financiados por fundos europeus.