Em Novembro, neste espaço, tive oportunidade de referir a importância da candidatura de Emmanuel Macron à presidência da França, mencionando que uma boa prestação deste candidato seria crucial para todos. Macron apresentou há dias as suas políticas com um corte na despesa pública de 60 mil milhões de euros, acompanhado de um investimento público próximo dos 50 mil milhões. O que tira de um lado, põe do outro.

A grande alteração que Macron preconiza, e quem leia o seu livro “Révolution” facilmente o compreende, é uma outra forma de colocar os problemas e, inevitavelmente, de os resolver. O líder do movimento En Marche quer melhores políticas sociais, melhor educação pública e apoio aos desempregados. Sucede que estas medidas que o colocam à esquerda prevê Macron levá-las à prática com mais descentralização, dando maior autonomia aos municípios e às escolas, e permitindo que a legislação laboral se cinja aos direitos essenciais, passando as empresas a regular as relações contratuais com os seus empregados.

Para Macron a divisão já não se faz entre trabalhadores e patrões, mas entre um país que quer avançar e outro que estagnou. Para superar o impasse propõe não regulamentar ou controlar, mas permitir que as pessoas possam encontrar as soluções apropriadas ao seu caso concreto e não serem punidas por isso. Esta é a mudança que Macron preconiza e qualquer semelhança com a esquerda portuguesa é ilusória. Com a sua nova perspectiva laboral, Macron quer um Estado que não privilegie os funcionários públicos e os que trabalham nas grandes empresas em detrimento dos que estão nas médias e pequenas empresas, cuja realidade é, a maioria das vezes, desconhecida por quem está na política.

É percebendo o que Macron quer para a França que compreendemos como é que ele vai enfrentar Marine Le Pen na segunda volta. Ao contrário dos outros candidatos, Macron não  diaboliza quem vota na Frente Nacional (FN). Para ele, o eleitorado da FN são os franceses esquecidos pela elite política. Agricultores, empregados de fábricas e de escritórios, de pequenas e médias empresas, pessoas que costumam votar à esquerda ou à direita, mas que desistiram de esperar por quem não tem soluções para os seus problemas e se vêem empurradas, mais pela emoção que pela razão, para o colo da extrema-direita.

Liberal quando dá espaço a que os franceses resolvam os seus problemas, de esquerda quando mantém as políticas sociais, Macron mostra um novo discurso a esse eleitorado desiludido. Mas há riscos. Um vem da sua inexperiência, o que o torna uma incógnita. Outro quando, em Maio, Hamon e Mélenchon decidirem quem apoiam na segunda volta. É que tanto um como o outro estão mais próximos de Le Pen que de Macron.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.