“A inteligência artificial da máquina é a última invenção que a humanidade precisará fazer”, Nick Bostrom, Professor e Diretor do Future of Humanity Institute, Universidade de Oxford
A revolução da Inteligência Artificial (IA) chegou para ficar. Esta é a principal conclusão a que podemos chegar como sendo praticamente garantida, sobretudo, depois das grandes empresas mundiais do sector tecnológico terem anunciado fortes compromissos de investimento para o curto prazo nesta frente de inovação.
A empresa NVidia – um dos principais fabricantes de componentes eletrónicos para aplicações de IA a nível global – anunciou, em maio, uma subida de 2,6 vezes das receitas obtidas face ao primeiro trimestre de 2023, ao mesmo tempo que titãs do sector, como a Microsoft, Alphabet, Meta ou Amazon, anunciaram aumentos significativos do investimento das suas infraestruturas de IA, que deverão crescer 40% este ano face a 2023, de acordo com os dados da agência da Factset e ultrapassando valores acima dos 200 mil milhões de dólares, aos quais a dinâmica da economia não será indiferente.
Ou seja, a Inteligência Artificial está a caminho de se tornar uma variável bastante relevante na próxima década, e, da mesma forma que a internet no final do século XX, esta nova fronteira tem potencial para levar a aumentos significativos da produtividade.
Inteligência Artificial promete uma nova era para a indústria
A emergência da IA generativa tem vindo a ser discutida faz já alguns anos a esta parte. Porém, esta tem vindo a escalar em termos de visibilidade mediática nos últimos trimestres, tendo deixado de ser uma temática restrita a nichos de especialistas do sector, para ganhar contornos muito reais e imediatos.
Todo este entusiasmo teve um gatilho que espoletou um maior interesse, o ChatGPT. Antes do lançamento desta ferramenta de IA, a perceção consensual era a de que a criatividade é uma caraterística única humana. E, na realidade, o ChatGPT e outras ferramentas subsequentes vieram mostrar que existe a Inteligência Artificial Generativa – ou seja, usando mecanismos de aprendizagem tecnológica avançada digital (ex: machine learning, deep learning) – se pode criar, aprender, reaprender e até imaginar novos conteúdos a partir de dados disponíveis.
Esta é, de facto, uma enorme e disruptiva inovação que pode criar uma nova era na indústria. Um relatório produzido pela consultora PwC, “Sizing the prize”, aponta que esta nova era pode representar um contributo de 15 biliões de dólares até 2030 para a economia mundial, sendo que destes, 6,6 biliões de dólares (44% do total), serão obtidos via aumento dos ganhos de produtividade.
A China e os Estados Unidos serão as regiões onde mais se vai fazer sentir o impacto económico da tecnologia, com cerca de 70% do impacto económico conjunto (10,7 mil milhões de dólares), enquanto que na Europa terá um impacte de 2,5 biliões de dólares, correspondentes a cerca de 17% do total global.
A promessa de produtividade também comporta desafios e incertezas
Parece inquestionável que a nova fronteira da inovação está à porta. E deverá marcar o resto desta década. Neste ponto, importa entender qual o ritmo a que uma rápida aceleração na automatização de tarefas pode gerar poupanças nos custos laborais e, consequentemente, aumentar a produtividade das empresas que procuram, de forma voraz, novas formas de aumentar os resultados, e alimentar a ambição dos investidores e dos mercados financeiros.
A capacidade da tecnologia de gerar conteúdos que serão, progressivamente, indistinguíveis dos resultados criados pelo Homem e de quebrar barreiras de comunicação entre humanos e máquinas, reflete um grande avanço com efeitos macroeconómicos potencialmente grandes.
É ainda cedo para responder, mas se a IA generativa cumprir as capacidades prometidas, o mercado de trabalho poderá enfrentar perturbações significativas. Utilizando dados sobre tarefas profissionais, tanto nos EUA como na Europa, os analistas do Goldman Sachs, num estudo de 2023 (“The Potentially Large Effects of Artificial Intelligence on Economic Growth”), indicam que a IA generativa poderia substituir até um quarto do trabalho atual, o que corresponderia a cerca de 300 milhões de empregos a tempo inteiro à automação.
O deslocamento de trabalhadores causado por uma maior automação e inovação tem sido sempre, historicamente, compensado pela criação de novos empregos, sendo as novas profissões criadas na sequência de inovações tecnológicas responsáveis pela grande maioria do crescimento do emprego a longo prazo.
Contudo, será sempre necessário gerir a transição que pode criar tensões na sociedade e quebrar a coesão social instalada. Devem ser implementadas políticas públicas, no sentido de construir um novo contrato social, que permita mitigar os impactes da inovação e manter vivas as aspirações de mobilidade societária das populações, e que permita também reduzir as desigualdades criadas.
‘Bottoms’ up’: Portugal também deve abraçar esta obsessão “artificial”
Apesar das dúvidas e resistências, a inovação deverá ser incontornável e economicamente disruptiva. A combinação de poupanças significativas nos custos laborais, a criação de novos empregos e maior produtividade para os trabalhadores não deslocados aumenta a possibilidade de uma explosão da produtividade que aumente substancialmente o crescimento económico. E, embora seja difícil prever o momento desta mudança, é muito provável que seja capaz de permitir saltos económicos significativos estruturais, que depois irão impactar na qualidade de vida das sociedades.
Portugal deve aproveitar para abraçar a inovação. De acordo com as previsões do International Data Corporation (IDC), o investimento em inteligência artificial deverá ultrapassar os 100 milhões de euros em 2024, em Portugal, sendo que a inteligência artificial deve registar um crescimento anual de 25%, entre 2023 e 2027. Este é um facto sobre o qual podemos ter dúvidas acerca da sua dimensão, mas sobre o qual temos uma certeza – é que já é uma realidade incontornável.