O setor da joalharia tem potencial para ser a referência de sustentabilidade nos segmentos da moda e do luxo. A sustentabilidade é intrínseca ao setor – uma joia é tipicamente pensada para durar gerações e pela natureza totalmente reciclável dos metais utilizados.

Apesar de não haver números oficiais, diferentes fontes indicam que mais de 90% dos metais preciosos utilizados na produção de joalharia em Portugal provém de peças recicladas. No entanto, não há identificação oficial da proveniência dos metais preciosos que permita às empresas comunicar a sua origem. Este ponto é relevante para diferenciar a produção portuguesa de outras que usem matérias-primas mineradas, que em muitos casos têm impactos negativos ambientais e humanos.

O setor da joalharia ainda é dominado por micro e pequenas empresas, o que torna as cadeias de valor longas e complexas, dificultando a alteração de práticas e responsabilização ao longo da cadeia. Para haver melhorias, as empresas portuguesas deverão começar a assumir mais responsabilidades em toda cadeia de valor. Isto passa por conhecer melhor as origens dos materiais e dar preferência às empresas que também tenham este compromisso.

O organismo Responsible Jewelry Council destaca-se como referência na identificação de práticas sustentáveis (baseadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU) e emissão de certificações a empresas que cumpram estas práticas. Este organismo poderá ser uma parte da solução, ainda que exista necessidade de melhoria na sua governance e capacidade de auditar.

As tendências de internacionalização pela digitalização e consolidação no setor, que foram aceleradas pela pandemia, vão naturalmente criar uma maior pressão às empresas portuguesas.

O posicionamento da indústria de joalharia portuguesa como exemplo de sustentabilidade é talvez a nossa maior oportunidade de diferenciação. E porquê em Portugal? Temos uma indústria com pequena dimensão (cerca de 450 empresas) que está organizada em clusters muito bem identificados, como Gondomar ou Guimarães, e que tem uma produção em escala limitada e maioritariamente artesanal. Estas condições facilitam uma transformação mais rápida quando comparada com outras indústrias, como a têxtil que tem um tamanho 10 vezes superior e está mais dispersa.

Esta transformação não será apenas uma transformação de práticas, mas acima de tudo de mentalidades. Caso tenha interesse em ler mais sobre este assunto, recomendo a leitura do artigo A sustentabilidade da ourivesaria da Joana Campos Silva que tem sido uma voz ativa na promoção da sustentabilidade no setor da moda.