O exemplo pode ser encontrado na Natureza milhares de vezes. As “sociedades” animais, se lhes quisermos assim chamar, intuem que o seu principal objetivo passa por cuidar dos mais novos, dando-lhes as melhores condições para que prosperem.

A humanidade não tem de ser (e não deve ser) tão darwinista, mas não pode perder de vista as noções de futuro e de justiça geracional, defendendo os mais jovens – aqueles que não têm grande capacidade de influenciar o seu destino nos primeiros anos. O fardo da dívida e o desemprego jovem têm sido bons exemplos de pouco respeito pelos mais novos antes da Covid-19.

Numa crise é sempre preciso fazer escolhas e a pandemia tem trazido momentos difíceis a esse nível. Depois de uma primeira fase de paragem completa perante uma ameaça desconhecida, tivemos um bom exemplo de solidariedade geracional com os mais idosos, o que se prolongou até às vacinas, ainda que com excessos de zelo que impediram visitas e despedidas de familiares e amigos. Nessa altura, as crianças foram mesmo deixadas para trás, privadas das suas aulas, convívio, desporto e demais atividades, mas compreendia-se.

Ao longo dos meses temos continuado a deixá-los para segundo plano, castrando o seu desenvolvimento, limitando as suas atividades, festas, viagens, competições, as celebrações das suas conquistas e, no fundo, parte importante do seu desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. O caso da menina de 12 anos retirada da sua mãe por não usar máscaras – as tais que eram desaconselháveis em março de 2020 talvez seja um excelente exemplo de como o egoísmo geracional tende a prevalecer.

Medidos os prós e contras, seria deveras aconselhável ceder um pouco da nossa sensação de segurança em favor da vida das nossas crianças. Já lhe temos tirado muito.