Nos últimos cinco anos tem sido praticamente impossível encontrar no noticiário global algo positivo sobre a China. O país asiático, que tem ascendido surpreendentemente desde 1978, tornou-se uma ameaça à hegemonia do Ocidente e da prevalência do Atlântico como eixo da economia mundial. A resistência à China parece uma ação orquestrada no sentido de invalidar o surpreendente despertar chinês e uma tentativa de transformar a China numa segunda União Soviética.

A Cúpula do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), realizada em Pequim, entre 4 e 6 de setembro, no entanto, serviu como uma importante recordação ao Ocidente de que a realidade do tabuleiro geopolítico mudou profunda e irreversivelmente. Ao dar as boas-vindas a líderes de inúmeros países africanos, o presidente Xi Jinping, que relembrou os líderes presentes do provérbio africano – “amigo é alguém com quem você compartilha a jornada” – deixou clara a intensidade da transformação da parceria sino-africana como um novo modelo de cooperação do Sul Global.

Ademais, as várias medidas anunciadas aprofundaram o relacionamento bilateral e consolidam a presença chinesa naquele continente. Ao anunciar dez planos de ação conjunta, Pequim deixou claro o seu compromisso em fazer aquilo que o Ocidente não faz há muito tempo: preocupar-se com o efetivo desenvolvimento dos países africanos.

Das várias iniciativas anunciadas, não há dúvida de que a abertura voluntária e unilateral do mercado chinês a países africanos, com a eliminação de tarifas aduaneiras para inúmeros produtos, é sem precedentes, porque, pela primeira vez, um mercado global sofisticado se abre à África de maneira tão ampla e irrestrita, inclusive para produtos agrícolas, com o objetivo, no longo prazo, de melhorar a qualidade dos produtos comercializados. A China anunciou ainda investimentos elevados em áreas como tecnologia, saúde, conectividade, cultura, agricultura, energia e defesa.

Cada vez mais a África tem-se tornado uma área importante de influência e competição entre as Grandes Potências. Isso é evidente. Ao elevar para relações estratégicas o relacionamento bilateral, Pequim parece disposta a influenciar ativamente a Agenda 2063 da União Africana. As agruras do histórico colonial europeu e da influência negativa dos Estados Unidos tornam o continente mais inclinado a buscar na parceria chinesa a infraestrutura e as possibilidades que o Ocidente já não consegue mais oferecer. Novos tempos, novos parceiros: esta é a mensagem da República Popular da China ao celebrar 75 anos.