É certo e sabido que todos nós, nalgum momento, especialmente nos últimos tempos, temos pensado inúmeras vezes acerca do fenómeno da corrupção. Caso o façamos porque os meios de comunicação social anunciam mais um caso de suspeição acerca de algum político, ou porque outro qualquer índice posiciona Portugal em certo nível no ranking, ou mesmo porque alguém alvitra aqui e ali (o que também acontece nesta coluna de opinião) exemplos que conhece, a temática origina discussões, indignações e likes.
Academicamente, a corrupção tem sido uma temática central para quem se ocupa de estudar o Estado, os seus interlocutores e respectivas instituições. Analisar e apontar causas, efeitos e a sua manutenção. Por norma, esta pesquisa dá-se ou utilizando vários países comparando-os, ou avançado para casos exemplares como certos Estados ou regiões. Na minha opinião, um dos mais interessantes pontos que a investigação sobre corrupção tem direccionado as suas baterias, e ainda muito recentemente discutido e reforçados no palco da investigação em Ciência Política, são as razões para um continuum do estado de corrupção em certas áreas geográficas. Isto é, a questão de porque é que em algumas sociedades mais do que em outras o fenómeno da corrupção se mantém mais ou menos estável. As explicações podem ser dadas a vários níveis e a mais simplista poderia ser referir que este mal assola mais fortemente os “países latinos” porque “lhes está nos genes”, que Portugal é um claro exemplo disso e até que Raroy saiu da liderança do governo em Espanha também por causa dos imensos escândalos sobre corrupção que assolaram o país e o partido nos últimos tempos, conforme tenho lidos desde a sexta-feira passada. Perdoem-me, mas eu não vou por aí: procurar causas e mecanismos, juntando-os com macro e micro-análises de níveis distintos, muitas vezes com provas inexistentes, gera mais confusões do que esclarecimentos.
Em boa verdade, apesar dos consensos serem difíceis neste tipo de investigações, há alguns pontos de convergência que os variados estudos têm demonstrado na sua maioria: há um path dependency, uma continuidade nos níveis elevados de corrupção e também nos níveis mais baixos, apresentem-se estes ao nível local, regional ou nacional. Assim, os mais pessimistas poderiam dizer que nada há a fazer a este respeito, parece este, em termos de níveis, um fenómeno imutável, para o bem e para o mal. Eu não avanço tão negativamente, mas penso nas cautelas a ter aquando da leitura destes fenómenos, como aliás, já aqui escrevi por mais do que uma vez. Talvez seja importante pensarmos pois em termos de mudança de paradigma, e já sei que esta parece ser uma expressão chavão daquelas que nada comportam, mas neste caso parece-me ser o ideal: ora se é difícil mudar o “estado do Estado” tal, contudo, não deverá ser absolutamente impossível. Há que, a meu ver, apresentar incentivos, estruturas e processos distintos daqueles que temos providenciado e tido contacto, com vista a mudar o actual cenário. Se esta é uma realidade que temos que mudar, a mesma passa pela consciencialização dos eleitores. Ou seja, sabemos através de vários estudos que nem sempre os eleitores punem com maus resultados nas urnas os políticos corruptos ou sobre os quais recaem acusações, sabemo-lo para vários exemplos adentro portas, se bem que aqui também não há uma evidência absolutamente marcante. E este último aspecto parecendo algo absolutamente vazio de sentido, uma verdade à La Palisse, como às vezes dizemos, tem muito mais do que se lhe diga do que parece ao primeiro olhar. Sem esta noção dinâmica, mas custosa, do que nos rodeia, dificilmente nos conseguiremos direcionar para um estádio melhor do que aquele em que nos encontramos hoje.