No boletim económico do Banco de Portugal de maio de 2022 sobre a economia portuguesa em 2021, não se podem deixar de destacar alguns dados, em especial no capítulo sobre a transmissão intergeracional da educação em Portugal. Estes revelam de forma muito clara como a qualificação dos pais e respetiva situação financeira condiciona a obtenção de qualificação pelos seus descendentes. Trocado por miúdos, o elevador educacional e social ainda funciona à base dos rendimentos do agregado familiar.
Citando o boletim: “Em Portugal, a percentagem de filhos de pais com ensino superior que também obteve essa qualificação é relativamente elevada no subconjunto de países analisados. […] Em contraste, menos de 20% dos filhos de pais com ensino até ao 9.o ano obteve uma educação superior. Esta é uma das percentagens mais baixas de entre os países analisados.”
Estão longe de ser dados surpreendentes, no entanto, seria importante tentar descortinar a razão de falharmos em aumentar essa percentagem dos 20%.
Sou parte desses 20%. Vendo o lado positivo, o salto geracional educacional tem sido incrível: no Líbano – e em Portugal não terá sido muito diferente. A geração dos meus avós era, na sua maioria, analfabeta, a geração dos meus pais foi a primeira a ser inteiramente escolarizada, e a geração dos seus filhos foi a primeira a ingressar e completar o Ensino Superior.
Para muitas famílias, a importância desse percurso de ensino público é motivo de orgulho e sinal de sucesso.
Ainda assim, frequentei o ensino universitário público sabendo que parte da minha geração se queixava das fracas saídas profissionais de muitos dos cursos para os quais tinham vocação. Ainda assim, a licenciatura era e ainda é um passo inevitável, se alguém quiser conquistar mais oportunidades no mercado de trabalho, mas os obstáculos limitam-se crescem.
Atualmente, para além do curso em si, com propinas bastante mais elevadas do que há uma década, temos o custo da habitação nos locais que acolhem as melhores universidades, um forte impeditivo para muitos estudantes que se pretendem deslocar de outros pontos do país, e mais um fator de desigualdade a acrescentar ao fator da situação financeira das famílias.
Para culminar estas conclusões, o mesmo boletim económico sublinha que “a melhoria da situação no mercado de trabalho [em 2021] não se refletiu no grupo etário mais jovem. A taxa de desemprego dos indivíduos entre os 16 e 24 anos manteve-se ainda acima da observada no final de 2019”, embora se destaque o facto de se tratar de uma geração bastante mais qualificada.
De forma paradoxal, a nossa geração mais qualificada de sempre tem ao seu dispor um mercado de trabalho repleto de ofertas de emprego de qualificações baixas. A escolha de muitos desses jovens de trabalharem fora de Portugal nem sempre é uma escolha, mas sim uma necessidade.
No meio de tantas desigualdades estruturais que ainda persistem, é importante dotar o nosso mercado de emprego de trabalhos mais qualificados e bem remunerados se queremos manter os nossos jovens no país. Ou corremos o risco de Portugal se tornar um oásis de trabalho remoto para europeus altamente qualificados que aqui se instalam e vêm fruir do clima ameno e do melhor que temos para oferecer em termos de turismo.