Verão é sinónimo de travessia de pontes. Seja a Vasco da Gama, seja a 25 de Abril, para quem vive a norte do Tejo, passar a ponte é uma via verde de acesso às praias da Caparica, litoral alentejano ou Algarve.
Hoje, saturadas pelo trânsito, basta que haja um pequeno acidente para que uma qualquer deslocação típica de 20 minutos passe a ter a duração de duas horas. No início deste mês, ocorreu um acidente na A5, junto ao Estádio Nacional, que bloqueou a circulação em várias vias, mas também na própria ponte 25 de Abril. Este acidente voltou a levantar a questão da necessidade de uma nova travessia sobre o Tejo.
No âmbito do projeto do novo aeroporto em Alcochete, antevê-se uma nova ligação entre a zona de Marvila/Chelas e o Barreiro, na margem sul. Mas há também especialistas na área dos transportes que defendem uma nova travessia sobre o Tejo entre Algés e a Trafaria, descongestionando a ponte 25 de Abril. O estudo da travessia em ponte ou em túnel chegou a ser uma promessa do governo de Durão Barroso, no início deste século, mas nunca saiu da gaveta.
Hoje, a situação vivida na ponte 25 de Abril – que fez 58 anos, a 6 de agosto – faz lembrar os momentos quentes enfrentados pelo SIRESP e a sua falta de redundância nos incêndios florestais graves de junho e outubro de 2017. Todos nos lembramos de como a falta de comunicações e a brutalidade das chamadas lavraram vidas na estrada da morte. Serve este exemplo duro e recente, e que ainda hoje nos mexe com as entranhas, para alertar para a falta de redundância de uma ponte que é crucial para a capital e para o país e que deve ser equacionada também no âmbito das medidas de proteção civil na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Sobre o Tejo ou debaixo dele, em túnel, a solução deve ser a mais segura e comportável financeiramente, bastando renegociar as contrapartidas com a Lusoponte, como têm sugerido alguns entendidos. Além da obra em si, é fulcral que qualquer novo projeto de infraestruturas de transportes na AML consiga estabelecer uma interface entre a rede de metropolitano, comboios, autocarros e soft mobility (trotinetas e bicicletas), melhorando a qualidade de vida de todos os que, no seu dia a dia, precisam de trabalhar na capital ou, em período de férias, precisam de carregar baterias com um mergulho para lá do Tejo.
Para quando uma autoridade metropolitana dos transportes com poderes efetivos? É uma ideia cujo embrião nos remete para o início dos anos 90. Hoje continua a não haver uma visão verdadeiramente integrada sobre a mobilidade na AML e não só. O tema não pode ficar engavetado entre quem manda nos comboios, nos autocarros ou nos barcos. Uma visão holística, precisa-se!
Se queremos ser um país com futuro, o conceito da cidade dos 15 minutos faz cada vez mais sentido. Tempo é dinheiro e, em Lisboa e Porto, muitos perdem mais de 30 a 60 minutos para chegar ao emprego. Por outro lado, do ponto de vista ambiental seriam poupadas emissões de carbono, cujos efeitos nefastos para o planeta e para a saúde estão já mais do que comprovados.
Não faltam tecnologias ao dispor e conhecimento especializado sobre como planear transportes e reinventar as cidades. Basta querer pensar nesta área como uma prioridade da política pública, arregaçar as mangas e deitar mãos à obra.