Sucedem-se os anúncios de candidatos às próximas eleições, num desfile de abertura de mais de trezentos combates municipais que, lá para o fim do verão, nos trarão milhares de novos titulares de câmaras e assembleias municipais, juntas e assembleias de freguesia. Os próximos meses serão a oportunidade de renovar votos e celebrar pactos para melhorar as condições de vida de cada munícipe, de cada freguês.

De quatro em quatro anos, repete-se o ritual de candidaturas, programas, promessas, anúncios. Entre os que se recandidatam, os que desafiam e os que se iniciam na dança mais autêntica da democracia, porque mais próxima, mais escrutinada e mais específica, nem todos têm a mesma determinação e postura, ou compreendem o seu papel, mas ao participarem todos contribuem para a concretização do poder local, tal como foi originalmente desenhado em 1976.

O poder local, definido no período pós-revolução, constitui a prova democrática de uma nova mentalidade. Assente na autonomia e titular de um poder próprio, foi por aqui que se começou a erguer o desenvolvimento e a fixar poder no interior, com a mesma dimensão, embora com meios mais escassos. Os municípios souberam ganhar o combate de responder às populações, particularmente numa fase inicial de criar infraestruturas onde estas não existiam, de fornecer serviços básicos que qualquer estado moderno considera a resposta mínima de qualidade de vida.

Assente na tradição histórica de municipalismo, desde princípios do século XIX com a reforma de Mouzinho da Silveira e mais tarde com Passos Manuel, as populações habituaram-se, nas últimas quatro décadas, que corresponderam a este desafio, a esperar das câmaras respostas às suas dificuldades.

Após um período inicial de mera construção, os municípios assumiram a criatividade e interpretam os anseios das populações, a par das suas necessidades. E à medida que os municípios crescem, abrem-se à evolução das juntas de freguesia como a face do novo poder. Mesmo sem significativas competências próprias, o seu desempenho impõe acercar-se das populações e ganhar por mérito o seu próprio espaço – desempenho este atribuível aos autarcas.

Ao princípio monopólio dos partidos, o alargar do poder fez emergir movimentos de cidadãos, uns mais autênticos que outros, uns que pretendem servir, outros que penas ambicionam satisfazer egos. O desfilar de candidatos exige a escolha não do mais conhecido, mas do que se mostra mais capaz de responder ao desafio local. Não é a estrela que importa, mas o que mais se importa.

A escolha de candidatos não se cinge ao nome, nem às sondagens. Assumindo uma estratégia assim, apenas se mostra uma debilidade na compreensão da natureza do poder autárquico.

A seis meses das eleições, a escolha dos candidatos deverá contar com a vontade das gentes locais, o conhecimento do terreno e a vontade de realizar. As próximas eleições não são um desfile de vaidades, nem o julgamento da política nacional. Mas também não o podem esquecer.