Em 2040 é esperado que metade dos novos veículos vendidos em todo o mundo sejam conectados e autónomos (1), havendo já nos nossos dias a expectativa que serviço de mobilidade partilhada será a opção preferida de consumo em detrimento da propriedade da viatura (cerca de metade dos Europeus assim o dizem, com variações locais) (2).

Neste contexto, nunca houve tantos recursos canalizados para este espaço: em 2018, cerca de $35,5 biliões foram investidos em mobilidade (3), com mais de metade em inovações de veículo. Contudo, apesar deste fluxo de investimento, os padrões de mobilidade têm-se mantido relativamente inalterados. Deste modo, à medida que novas tecnologias vão ganhando maturidade, é crítico desenhar de estratégias adequadas de incentivo ao comportamento pretendido.

Importa dissecar dois desafios principais do lado da procura:
• O cognitive bias effect, efeito de cognição humana que conduz a escolhas não ótimas por relutância do consumidor em testar novas soluções e.g., sobrevalorização da posse do atual veiculo privado (endowment effect) ou a sobrevalorização de possíveis riscos e perdas (loss aversion), como a ainda limitada capilaridade da rede de estações de recarga ou a atual menor autonomia de Veículos elétricos;
• A cultura da propriedade da viatura privada enraizada em alguns países, como em Portugal e.g., na Área Metropolitana de Lisboa, em 2018 cerca de 60% das deslocações foi feita via automóvel próprio (4), com a viatura considerada mais que um meio de transporte e.g., um símbolo de status.
É esperado que diferenças culturais tenham um significativo impacto na adoção de novas soluções de mobilidade. Ultrapassar algumas destas dificuldades e acelerar a procura de novas soluções de mobilidade são áreas fundamentais:
• Ultrapassar o desafio do cognitive bias através de um verdadeiro conhecimento de padrões de comportamento e cognição humana, onde técnicas de economia do comportamento têm significativo valor e.g., estruturar mensagem pela positiva, criar opções de mobilidade partilhada por defeito (sabendo que plataformas móveis permitem medir e seguir comportamentos);
• Papel do setor público para acelerar a curva de mobilidade: o ente público (governo central, áreas metropolitanas, camaras municipais) pode desenhar incentivos pela positiva (e.g., incentivos a car sharing para otimização do tempo de uso) e pela negativa (taxas adicionais em veículos de maior emissão), com o mix ideal resultado de especificidades locais.

Em conclusão, sabendo que a viatura privada continua a ser a forma preferencial de transporte, o ritmo de substituição para car sharing ou ride sharing dependerá do esforço em ultrapassar o desafio de cognitive bias. Para além do papel do setor público, as empresas têm um papel fundamental em considerar uma prioridade este desafio.

(1) The Future of Mobility in a Digital World, EY
(2) ISOS
(3) If the Future is now, what is next?, EY
(4) INE