Os episódios mais recentes de lutas laborais ilustram bem a incapacidade que o atual Governo demonstra em dialogar com representantes da sociedade civil. O executivo não tem conseguido travar a instabilidade social e dá sinais de verdadeiro enfado por ter de lidar com situações que não controla. Ressaltam já conclusões que vão marcar o futuro.

Por um lado, fica claro que o governo colhe o que semeou durante os três primeiros anos da legislatura. A atitude laxista e a ideia de facilitismo promovida inicialmente haveria de se estender aos setores que foram sistematicamente esquecidos. Enfermeiros e professores sentem-se desprezados e encurralados depois de tudo ter sido prometido e nada ter sido realizado. E estes episódios apenas entreabrem a porta de outros setores que se sentem secundarizados, como magistrados judiciais e do Ministério Público, polícias, militares, funcionários municipais, entre outros.

Segunda conclusão a tirar, a manifesta incapacidade do ministro da Educação e da ministra da Saúde em lidar com os acontecimentos. Está claro que estes membros do Governo perderam a credibilidade perante os seus interlocutores e a opinião pública de que não foram nem serão capazes de encontrar soluções que façam cessar essas lutas. Estes governantes têm feito pior às áreas que tutelam do que o ministro das Finanças com as cabimentações orçamentais e a falta de investimento em hospitais e escolas pelo país fora. A perda de credibilidade é tão notória que passou a ser o primeiro-ministro a intervir e o ministro Centeno a mandar recados de que não há folgas orçamentais para atender a estas reivindicações.

Já não é a justeza das reivindicações e a impossibilidade de satisfazer financeiramente a exigência que é equacionada. Atualmente, é a manifesta incapacidade que o Governo evidencia para encontrar respostas, alternativas, perspetivas e boa vontade. Nem nos atos nem já nas palavras.

O Governo de António Costa vive hoje acossado pelo diagnóstico de Vítor Gaspar em 2011, quando dizia que não havia dinheiro. O executivo habituou-se a espalhar palavras, a promover fé e a oferecer esperança. A diferença entre governos está no realismo e frontalidade de um governo versus a atitude complacente, sorridente mas cínica do atual poder executivo socialista. Desde a intervenção externa até ao presente momento poderíamos ter progredido lenta mas sustentadamente, como se fez até 2015. Ao invés, criaram-se expectativas inalcançáveis e objetivos impossíveis.

A diferença entre o executivo de Passos Coelho e o de Costa é que no primeiro progredimos, recuperando realisticamente, enquanto nesta legislatura, depois do período de tudo prometer, o executivo entrou em estado de negação governativa.

A atitude de nervosismo e de alerta nas hostes socialistas é evidente. E nem uma remodelação governamental será capaz de alterar este estado de alma, pois que a motivação está em baixa, a força esvai-se e o sentimento está em plano descendente. E por mais discursos ou intervenções que se realizem, isto espalha-se pelo ar. Como se denota em sucessivas sondagens. Mais tarde ou mais cedo, todos vamos pagar por isso. Esperamos que não sobre para o país.