Durante o mês de Outubro assistimos a um verdadeiro sell off nos mercados accionistas globais. Já é a segunda correcção do género em 2018, mas não existe demasiada surpresa do lado dos investidores. Isto porque tem sido um ano bastante pesado em termos de materialização de factores de risco – as tensões comerciais escalaram acentuadamente, um governo populista foi eleito em Itália, vários acidentes económicos surgiram nos mercados emergentes – e isso levantou os níveis de cautela ao longo do ano.

Apesar desta materialização de riscos, acabou por ser uma subida das taxas de juro no mercado obrigacionista norte-americano que precipitou a correcção de preços. A subida das taxas de juro está normalmente associada a robustez do crescimento económico, mas também obriga os investidores a reavaliarem as ações perante um custo de oportunidade mais atractivo. Esta reavaliação foi a gota de água que fez entornar o copo.

Por trás dos factores acima mencionados, está ainda uma preocupação algo obscura. A preocupação de que, chegada uma recessão, as entidades públicas terão muito pouca margem para estimular a economia via política monetária ou fiscal. Do lado da política fiscal, os Estados estão cada vez mais endividados. Do lado da política monetária, os bancos centrais continuam com taxas de juro directoras demasiado próximas de zero.

Uma preocupação que parece legítima, mas que falha em capturar um outro factor que tem por vezes maior protagonismo no desenrolar das recessões económicas: a capacidade que o sector financeiro terá para conceder crédito.

Nessa vertente, os desenvolvimentos do sector financeiro europeu e norte-americano ao longo de 2018 podem ser enganadores. As ameaças das fintech, a compressão de margens, e as dificuldades em gerar capital têm dominado as atenções, mas neste último ponto é importante esclarecer algo.

É preciso esclarecer que as dificuldades em gerar capital são consequência de exigências regulatórias que podem ser consideradas demasiado cuidadosas. Estas exigências estão a deformar os balanços dos bancos e a encostá-los a aplicações com pouco ou nenhum risco, de tal maneira que actualmente os bancos norte-americanos têm um excesso de reservas bancárias equivalente a quase 10% do PIB norte-americano ou equivalente a mais de 50% da base monetária. Na Zona Euro, o excesso de reservas bancárias é de cerca de 1,2 biliões de euros e representa cerca de 35% da base monetária.

Este excesso de reservas é, no fundo, uma parte significativa do QE que ainda não chegou à economia real. Representa um potencial de crescimento da oferta monetária – e, consequentemente, de crescimento do PIB e da inflação – que se mantém retido nos balanços dos bancos. Quando ocorrer a próxima recessão, os reguladores serão conduzidos a aliviar as exigências regulatórias de forma a deixar este excesso de liquidez fluir para a economia real em forma de crédito. Esse fluxo ajudará a colmatar a contracção da actividade económica, provavelmente de uma maneira mais eficaz do que o QE o fez.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.