Nos mercados financeiros, o conceito de “Fed’s put” refere-se à ideia de que há um nível de queda nos mercados acionistas que fará a Reserva Federal (Fed) norte-americana intervir para evitar mais perdas e, dessa forma, assegurar o regular funcionamento dos mercados e da economia.
Até à reunião de dezembro do BCE, ninguém equacionava que em 2022 as taxas de juro pudessem subir. Após a inflexão de discurso do banco central, a subida pronunciada dos juros soberanos na Europa registada nas últimas duas semanas, a par do alargamento de spreads entre os diversos países, está também a levantar a questão: quanto mais os juros terão de subir até que o banco central volte a mudar de discurso ou precise atuar nos mercados?
Em setembro passado, o spread Itália-Alemanha a 10 anos era de 100 pontos base, estando agora nos 165 bp. Mas, como os yields do Bund também subiram, os juros italianos passaram de 0,7% para 2%, o que já vai causando alguma preocupação. Desde março de 2015 que o BCE tem vindo a comprar obrigações soberanas e, a partir de março de 2020, o programa de emergência pandémica (PEPP) expandiu os montantes adquiridos, permitindo que os países periféricos se endividassem a taxas muito baixas.
Entretanto, a evolução dos preços está a provocar fazer com que, pela primeira vez desde 2021, haja um conflito entre inflação e fragmentação da zona euro. Será o março de 2022 também marcante?
Os analistas lembram que o PEPP surgiu com o spread Itália-Alemanha em 300 pontos, o que poderá ser um nível de referência para a tal put do BCE. Mas, mesmo com um rácio dívida/PIB de mais de 150%, a situação italiana é agora melhor: a maturidade média da dívida aumentou e o crescimento condimentado pela inflação poderá ajudar a fazer diminuir o fardo da dívida, mesmo com juros mais altos.
É por isso que há quem diga que mesmo com a “zona de perigo” demarcada entre os 200 a 300bp, o BCE só aparecerá quando os juros italianos ultrapassarem os 4%.