A leitura do PS/Governo relativamente ao quadro macroeconómico é um facto público, a partir dos dados submetidos no último Orçamento do Estado, mas também decorrentes de diversas intervenções posteriores do primeiro-ministro e do ministro das Finanças. A novidade dos últimos dias, todavia, foi a apresentação pelo PSD do seu quadro macroeconómico e orçamental, bem como das suas medidas de política fiscal.
Cito o PS e o PSD em particular pelo facto óbvio de serem os dois partidos estruturantes do sistema político e partidário português, e nada mais do que isso. O SNQTB, como é sabido, é institucionalmente independente face a qualquer força partidária, um traço do seu ADN que se tem mantido inalterado, independentemente das opções individuais legítimas dos seus sócios, ou dos membros dos seus órgãos sociais.
Mas, como dizia, PS e PSD convergem para uma leitura de curto e médio prazo que antecipa níveis de crescimento do PIB que, não sendo brilhantes, são em todo o caso aceitáveis, dado o contexto actual e o histórico das últimas décadas.
Naquilo que me diz respeito, registo que, do ponto de vista do PS e do PSD, o quadro macroeconómico se mantém favorável a que os bancos prossigam a redução dos créditos não produtivos, ao mesmo tempo que os seus resultados vão melhorando e com isso a capacidade de remunerar os accionistas e os trabalhadores.
PS e PSD convergem na leitura de que a economia portuguesa continuará a crescer nos próximos anos. Uma análise que, aliás, não se lhes circunscreve. Não se percebe, por isso, a resistência de alguns sectores em incorporar valores nas suas políticas de remuneração dos trabalhadores que sejam razoáveis e justos, antes insistindo no empobrecimento dos bancários.
A quem serve esta insistência numa estratégia de empobrecimento?
Aos bancários não serve, de certeza absoluta, por motivos evidentes. Aos portugueses, em geral, também não, uma vez que nada lucram com isso. Ao Estado português certamente que também não, pelos mesmos motivos. O Governo e os partidos políticos também não retiram disso benefício algum, antes pelo contrário. Resta, portanto, um único beneficiário possível, i.e. os accionistas dos bancos a operar em Portugal, muitos deles estrangeiros.
Aparentemente, estes accionistas estrangeiros estão pouco interessados noutra coisa que não seja nos resultados imediatos e em recuperarem o mais rápido possível o seu investimento, mesmo que isso se faça de forma desproporcionada e, no essencial, à custa dos trabalhadores. Pelos vistos, estes accionistas, e as administrações dos bancos por eles nomeadas, só compreendem uma única linguagem. Não é a do diálogo.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.