Muito se tem falado sobre o presente e o futuro da imprensa. O Presidente da República chegou a pedir medidas ao Governo para ajudar o sector, nomeadamente que o Orçamento de Estado para 2020 contemple a aprovação de propostas que já deram entrada no Parlamento para ajudar a situação difícil que a imprensa enfrenta.

Que a imprensa está em crise há muito não constitui novidade. Mas como é que chegámos aqui? Por falar em Governo, vamos recuar. Estávamos em pleno governo do ‘Engenheiro’ José Sócrates quando assistimos à maior tentativa de golpe à imprensa da nossa democracia.

Era conhecida a sua obsessão com a comunicação social por causa de notícias desfavoráveis. Era habitual ligar, encolerizado, aos jornalistas. Mas o mais grave foi ter engendrado um plano para controlar os jornais através do Grupo Lena e do seu alegado testa de ferro, Carlos Santos Silva, que iniciou na aquisição de jornais regionais e chegou à criação de um jornal nacional.

Durante anos investiram na imprensa regional chegado a ter a maior carteira de publicações entre jornais e rádios. O passo seguinte era chegar à imprensa nacional. O Grupo Lena, através de Armando Vara, à altura administrador do Millennium BCP, fez uma oferta para adquirir o Público, mas Paulo Azevedo, presidente da Sonae que detinha o jornal, recusa.

Nova tentativa no sector dos jornais económicos, o grupo ofereceu 20 milhões de euros à sociedade Económica SGPS SA, responsável pela edição e venda dos jornais “Diário Económico” e “Semanário Económico”. A operação mais uma vez não teve sucesso.

O grupo decidiu então criar um jornal nacional chamado “Novo Diário”, e anunciou um investimento na ordem dos dez milhões de euros. A apresentação formal e oficial ocorreu em março de 2009, no Taguspark, em Oeiras. A primeira edição viria a ser publicada dois meses depois e o jornal acabaria por surgir com o nome “i”, nas vésperas das eleições legislativas.

O Grupo Lena ainda tentou adquirir a TVI enquanto Sócrates travava uma guerra com o “Jornal de Sexta” do mesmo canal, culminando no afastamento da jornalista Manuela Moura Guedes.

Todos estes dados foram obtidos através de escutas e constam da acusação do Ministério Público que visa o ex-primeiro-ministro, num caso que ainda não está concluído. É verdade que muitos falam da crise na imprensa, governantes, jornalistas, comentadores, mas também é verdade que não ouvimos ninguém recordar que o caso mais escandaloso de controlo da imprensa no país foi protagonizado por um primeiro-ministro.

Perante tudo isto, justifica-se a dúvida de que uma intervenção estatal nos meios de comunicação social seja isenta e que esteja garantido não existirem favores nem privilégios, nem que aquela sirva para financiar grupos suspeitos ou para comprar a fidelidade política. Não se pretende limitar a liberdade de imprensa, mas sim promovê-la.