A administração pública acabou 2024 com quase 754 mil postos de trabalho, o valor mais alto desde pelo menos 2011 – o ano da falência do Estado português. O país tem mais pessoas, em teoria é natural que haja uma subida para responder às novas exigências. O facto de ter havido supressão de entradas durante o período da troika e pós-troika também justifica o aumento. Acontece que, além de justificações reais, talvez se misturem outras irrazoáveis, como o populismo eleitoral.
A prova do algodão vai acontecer agora porque, pela primeira vez num governo de Montenegro, haverá um Ministério da Reforma do Estado. A decisão é boa. É muito boa. Não há mínima dúvida de que é urgente racionalizar o Estado e as funções que cumpre. É também evidente que tem de existir um retrato preciso daquilo que em tempos foi designado como o monstro. Ora bem, neste contexto complexo, faltava realizar duas condições indispensáveis: a escolha de um ministro com capacidade intelectual e técnica – Gonçalo Matias tem estas caraterísticas singulares; e a atribuição de efetivo poder de decisão a este ministro.
Ora bem, ao contrário de António Costa, que atirou Alexandra Leitão às feras (simultaneamente, desperdício e ratoeira partidária), não lhe atribuindo qualquer estatuto reforçado, o atual primeiro-ministro não deixará, para já, Matias a falar sozinho: nomeou-o adjunto e equipou-o com genuíno poder de fogo dentro do Conselho de Ministros.
O que isto significa é claro: este ministério faz pouco sozinho, dependerá sempre dos outros ministros para ter informação e capacidade de concretização – Luís Montenegro percebeu-o e deu um importante sinal de apoio. Ou seja, Gonçalo Matias parte com as armas certas, mas ainda falta conhecer o programa que vai executar. Será difícil encontrar o justo equilíbrio entre o estudo obrigatório e a ação urgente. Entre o populismo crescente e a minguante tolerância das pessoas ao desconforto. Vivemos tempos extremados, talvez até perigosos, que o bom senso e a determinação imperem nesta legislatura.