Com um panorama atual marcado por inovação e mudança acelerada, nas mais diversas áreas, o papel do empreendedorismo tem assumido uma relevância redobrada. Neste cenário, produzir futuros empreendedores tornou-se estratégico; no entanto, é necessário perceber que esta construção vai muito além da tradicional educação técnica em gestão de negócios.

É crucial reconhecer o empreendedorismo como um fenómeno complexo, com interconexão entre diferentes elementos do ecossistema. É por isto que a formação adequada assume uma importância tão crítica, com capacidade para se adaptar às exigências do mundo em que vivemos.

Para formar empreendedores de sucesso, é mesmo imperativo transcender os limites convencionais da formação em negócios. O empreendedorismo deve ser visto como um fenómeno sistémico, exigindo uma abordagem holística na educação. Isto significa capacitar não só os futuros empreendedores, mas também os líderes do ecossistema em que estes irão operar, fomentando uma comunidade colaborativa e diversificada que suporte o crescimento e a inovação.

Sabemos obviamente que a educação é fundamental, não apenas para o desenvolvimento pessoal – proporcionando conhecimentos e competências valiosas -, mas também para o avanço da sociedade, ao empurrar os limites da inovação e da produtividade.

Contudo, é seguro afirmar que o sistema educativo atual não se encontra adaptado às necessidades do mundo futuro. Desta forma, é crucial reformular os paradigmas educativos, de modo a preparar adequadamente as próximas gerações para os desafios e oportunidades do empreendedorismo moderno, alinhando os currículos com as exigências de um mercado global em constante evolução e percebendo a educação como alicerce de oportunidades.

Esta questão segue, de certa forma, a lógica de capacitação do ecossistema: no sentido de encorajar os alunos a serem empreendedores, os professores necessitam de ter aptidões relacionadas com criatividade e empreendedorismo, construindo um ambiente escolar onde se incentive a coragem de arriscar e os erros sejam vistos como oportunidades para aprender.

A própria Comissão Europeia tem trabalhado neste sentido, apoiando projetos que pretendem promover a educação para o empreendedorismo, considerando a capacitação e a formação dos professores e reconhecendo a importância e o papel dos mesmos neste âmbito.

Veja-se o caso da “The Budapest Agenda”, que contempla um plano de ação abrangente – com um conjunto de medidas que podem ser tomadas por diversas partes interessadas – com o propósito de impulsionar a formação dos professores para o empreendedorismo. Este documento destaca, precisamente, a necessidade de os professores evoluírem dos papéis tradicionais para se tornarem facilitadores de aprendizagem, assim como a necessidade de uma mudança de paradigma na educação, no sentido de realçar a aprendizagem ativa, a criatividade e a inovação.

O relatório sublinha ainda a importância de estratégias nacionais para a formação dos professores nesta área, sugerindo a criação de centros de recursos e o desenvolvimento de padrões de qualidade para o conteúdo educacional.

É importante, no entanto, reconhecer que uma ênfase exclusiva no empreendedorismo não é uma solução única para todos (não somos todos empreendedores e não há absolutamente nada de errado nisso). Assim, o sistema educativo deve ser equilibrado, fornecendo, para além da promoção do empreendedorismo, uma base sólida em várias disciplinas e habilidades essenciais, como o pensamento crítico. Da mesma forma, devem ainda ser incluídas matérias como educação financeira, ética empresarial e sustentabilidade.

Por fim, e embora a inclinação para tecnologias avançadas e capacidades técnicas seja frequentemente enfatizada no contexto do empreendedorismo, não se deve subestimar a importância das soft skills. Competências como criatividade, capacidade de resolução de problemas, liderança, comunicação eficaz, e resiliência são essenciais para o sucesso em qualquer jornada empreendedora.

São estas habilidades que permitem aos empreendedores adaptarem-se a ambientes em rápida mudança, estabelecer relações duradouras com stakeholders e liderar equipas de forma eficiente, destacando-se, assim, num mercado competitivo.

Perante um contexto dinâmico e, sem dúvida, desafiador, a formação na preparação de futuros empreendedores não pode ser subestimada. Ao reconhecer e valorizar a sua importância, podem ser criadas as bases sólidas para uma cultura empreendedora vibrante, eficiente e sustentável.