É um assunto critico, que a todos nos impacta de uma forma ou de outra e cuja perceção na população é a de que é mais o que está mal do que o que está bem. Não será certamente assim na realidade, mas os problemas existem, uns são estruturais, outros teimam em permanecer e tornarem-se crónicos, como certas doenças.
Os desafios são vários e sobejamente conhecidos: falta de recursos humanos, subfinanciamento, governação desajustada, atraso na transformação digital, etc. E os estudos, análises, propostas abundam, embora muito pouco se vá concretizando.
Há, no entanto, um desafio, entre tantos, que considero pertinente referir e que são os vários tipos de dificuldades que condicionam o acesso a cuidados de saúde com qualidade. Estas dificuldades variam consoante as condições e localizações dos utentes. Decorrem de factores como, por exemplo, o nível de literacia em saúde, o acesso a transporte atempado e adequado, os hábitos alimentares apropriados incluindo a prática de exercício fisico. São factores que fazem parte da vida dos pacientes, frequentemente negligenciados, e que numa perspetiva de prevenção ou numa fase de tratamento podem reduzir as despesas com saúde e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Neste contexto, partilho resumidamente um caso de colaboração entre a EY e a MetroHealth’s Institute for H.O.P.E. sendo que esta última tem investido na identificação das necessidades dos pacientes à luz dos determinantes sociais de saúde (SDoH). Ambas as organizações colaboraram com vista a validarem uma abordagem inovadora visando melhorar a experiência dos pacientes e dos profissionais de saúde utilizando “smart health analytics”. O objectivo é levar a que sejam prestados cuidados de saúde adequados e atempados, potenciados pelo uso de dados incluindo os SDoH.
A mudança do paradigma para modelos baseados no valor dos cuidados de saúde prestados pretende colocar o foco nos resultados, evitando os incentivos à sobreutilização. A identificação dos riscos sociais, comportamentais e clínicos facilita o atendimento personalizado e intervenções direcionadas, permitindo a melhoria de resultados. Mais concretamente, a identificação precoce de doentes de alto risco proporciona um atendimento mais preventivo e preciso, com benefício para a qualidade de vida do paciente. Além disso, tem um impacto positivo nos custos directos com os cuidados de saúde, incluindo o uso de menos recursos do sistema de saúde, assim como beneficia a economia (menores taxas de absentismo, maior produtividade, etc).
O projecto levado a cabo pela EY e pela MetroHealth mostrou que os prestadores de cuidados médicos podem identificar riscos especificos de SDoH dos seus paciente e estratificá-los entre risco social e clínico, permitindo atingir um elevado nível de precisão na previsibilidade.
O incremento no investimento no tratamento de dados, subjacente à necessária e urgente transformação digital, tem um elevado potencial para ser um forte contribuinte tanto para a melhoria dos cuidados de saúde como para a sustentabilidade do sistema de saúde nacional.