São necessários 20 anos para construir uma reputação, e apenas cinco minutos para destruí-la. Se pensar sobre isso, fará as coisas de forma diferente”. – Warren Buffet

O jornal de referência europeia “Político” teceu na semana passada severas críticas à forma como o governo português tem gerido os primeiros meses da presidência europeia, salientando o carácter despesista da presidência e colocando dúvidas sobre a seleção de patrocinadores e empresas fornecedoras – algumas com pouco tempo de atividade.

No centro das críticas desta reportagem estão 260 mil euros utilizados para equipar um centro de imprensa, ainda que o acompanhamento das conferências seja agora feito de forma virtual e não-presencial, para além de cerca de 75 mil euros em bebidas e vestuário que não será utilizado.

A relevância desta reportagem ganha dimensão quando estamos numa fase crucial de transição, em que os fundos de apoio e recuperação europeia serão o instrumento decisivo para que Portugal possa evitar uma severa crise social, e colocar a economia nacional num trilho de modernização e criação de postos de trabalho.

Ao mesmo tempo, serão também os mecanismos postos em prática pelo Banco Central Europeu (BCE) que deverão continuar a permitir a sustentabilidade do financiamento do Estado, sector bancário e restantes empresas portuguesas nos mercados financeiros internacionais através dos seus programas de estímulos monetários – sendo que neste momento o BCE detém mais de 30% da dívida do Estado português.

Importa, por isso, evitar situações que possam dar a entender que o processo de aplicação dos fundos de recuperação será feito em qualquer outro cenário que não seja o de rigor. Estas dúvidas teriam repercussões desnecessária junto dos principais parceiros europeus (nomeadamente os chamados países “frugais”, que têm levantado reservas relativamente a uma excessiva desafetação dos montantes das ajudas europeias para fins que desvirtuem a filosofia pretendida) e poderiam levar a uma pressão para exercer maior controlo sobre o processo dos investimentos e, consequentemente, provocar danos reputacionais desnecessários.

Uma outra dimensão está associada à ligação com os portugueses. A dimensão potencial das consequências pós-pandemia no campo social é significativa, e não se limitará à perda de emprego. A aposta na coesão entre as instituições e os cidadãos é, aliás, uma das frentes mais importantes e menos discutida. Os cidadãos europeus esperam desta agenda de transformação nada menos que esperança para a próxima década, patente num novo contrato social que permita estabilidade de rendimentos, progressão de poder de compra e melhor qualidade de vida.

Neste sentido, dar a entender que os mecanismos da recuperação não são um processo robusto e abrangente, de igual acesso e transparente, pode abrir feridas profundas entre os portugueses, e alimentar a desconfiança na Europa sobre a capacidade de compromisso de Portugal, além de também podermos perder a confiança dos investidores internacionais.

Importa recordar que a reputação é um importante ativo para qualquer país, mais ainda para uma economia pequena e aberta, e como tal, não deve ser desbaratada em nome de agendas mediáticas que possam ser entendidas como de promoção pessoal ou partidária. Sobretudo em tempos de elevados desafios como os atuais.

O caminho para a transformação económica portuguesa rumo ao carbono zero também pode, e deve, começar por uma mudança de mentalidades relativamente aos temas da transparência e da “governança” do interesse público. E, consequentemente, do risco reputacional do Executivo de um país, que é um ativo de enorme relevância para construir o futuro.