Quem olhasse para a abertura do mercado na passada segunda-feira e não tivesse estado atento às notícias, não acreditaria que os Estados Unidos tivessem bombardeado diretamente o Irão.
É verdade que se notou alguma volatilidade no preço do petróleo, que num momento de menor liquidez do mercado subiu até máximos de cinco meses, corrigindo a seguir. No entanto, ativos que tendem a valorizar com a incerteza como o ouro, as obrigações e o dólar, ou subiram marginalmente ou estiveram mesmo a cair, ainda antes de ser anunciado um cessar-fogo entre Israel e o Irão. Nos mercados acionistas, a reação também foi quase inexistente, com os investidores a não mostrarem receios de uma escalada do conflito ou do possível encerramento do Estreito de Ormuz.
Na minha experiência em mercado, dou especial valor às reações divergentes. Por exemplo, quando uma empresa divulga maus resultados e a cotação não desce, isso é um sinal de força do mercado. Pelo contrário, se as notícias são boas e o ativo em questão não valoriza ou até cai, é um sinal de fraqueza.
Tendo em mente esta abordagem, a reação das bolsas aos acontecimentos mais recentes revela uma forte resiliência dos mercados acionistas, sobretudo norte-americanos. O S&P 500está novamente perto de máximos histórico, algo que o Nasdaq já renovou esta semana. Estamos, também, a regressar a um momento de maior performance relativa dos mercados dos EUA e da tecnologia em particular. Afunilando ainda mais, é na Inteligência Artificial que se encontram alguns dos principais vencedores.
Já o dólar voltou a dar sinais de debilidade. O mercado poderia ter “aproveitado” a guerra entre Israel e irão (e a intervenção dos EUA em particular), para dar força à moeda norte-americana, o que não aconteceu. Para mais, esta semana Jerome Powell voltou a adiar o momento do corte de taxas de juro pela Fed, o que poderia ter dado suporte ao dólar, mas o Eur/Usd a atingiu máximos de mais de 3 anos. Portanto, a força que se vê nas ações encontra o seu simétrico no dólar.
As bolsas americanas não se estão a assustar com as tensões geopolíticas, guerras tarifárias, riscos de desaceleração ou perspetiva de obsolescência de modelos de negócio. Provavelmente, os investidores apenas irão assustar-se quando, por algum motivo que poderá ser banal, sistémico ou de liquidez, os preços começarem a cair e fizerem acordar os “animal spirits” – principalmente o medo. De momento, a confiança parece inabalável.