Apandemia trouxe para o léxico de grande parte das organizações um conceito até então pouco explorado, porventura apenas pelas organizações portuguesas com um nível avançado de maturidade – resiliência.

Tradicionalmente, a resiliência focava-se essencialmente em áreas como a Continuidade de Negócio e a Recuperação de Desastre, com ênfase na resposta a incidentes e cenários de desastre.
No entanto, com o impacto da COVID-19, a resiliência passou a ser considerada uma característica transversal às organizações, considerando não só a vertente organizacional, mas também tecnológica, com o objetivo de garantir a resiliência operacional por um período de tempo alargado, identificando e prevenindo também possíveis disrupções de serviço. Tudo isto, sem que sejam afetados serviços prestados e de uma forma transparente para os clientes e demais partes interessadas.

O questionário de gestão de risco global da EY, publicado em junho de 2021, em parceria com a IIF (Institute of International Finance), comprova a crescente importância da resiliência nas instituições financeiras, exponencialmente acelerada pelo cenário pandémico que vivemos, que funcionou como catalisador de mudança e inovação em praticamente todos os setores da sociedade. Em particular, este questionário demonstra que a resiliência operacional representa uma das maiores preocupações para os CRO (Chief Risk Officers), bem como para os Conselhos de Administração destas organizações.

Por outro lado, é também possível constatar que durante este período de pandemia o foco dos reguladores deixou de estar apenas relacionado com os riscos de cibersegurança, alargando-se numa visão mais abrangente de resiliência operacional e tecnológica.
A Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à Resiliência Operacional Digital (Digital Operational Resilience Act – DORA) para o setor financeiro demonstra isso mesmo. Publicada em setembro de 2020, em plena pandemia, esta proposta ambiciona harmonizar a gestão de risco das TIC e as regras de classificação e comunicação de incidentes, bem como estabelecer padrões para a realização de testes de resiliência operacional por forma a garantir que as instituições financeiras se mantêm resilientes mesmo em tempos de incerteza e disrupção constantes, num ecossistema financeiro cada vez mais complexo.

O setor financeiro não foi imune à pandemia, que obrigou a grandes alterações no seu funcionamento, sobretudo na tecnologia e na resiliência tecnológica das suas infraestruturas, quer através da introdução ou reforço de canais digitais, quer através de plataformas e ferramentas altamente inovadoras (e.g. data analytics ou inteligência artificial), acelerando a sua jornada de transformação digital.
Ainda assim, acabou por ser dos setores menos afetados durante este período devido ao esforço de décadas das instituições financeiras, bem como dos próprios reguladores e supervisores, o que permitiu que os bancos e seguradoras suportassem as necessidades das diversas comunidades, economias e mercados financeiros, mantendo-se financeiramente estáveis sobretudo devido à sua capacidade de liquidez.

A resiliência do sistema financeiro acabou por permitir que as instituições financeiras ultrapassassem os desafiantes riscos associados à pandemia. Uma demonstração prática e clara de que a resiliência implementada e operacionalizada diariamente no seio das organizações permitirá definir o seu sucesso a longo prazo.