A resposta do espaço às crises globais é um tema que desperta em mim um misto de fascínio e reflexão, mas também de responsabilidade, dado que trabalho no desenvolvimento e operacionalização destas soluções. Vivemos numa era em que o mundo parece mais interligado do que nunca, mas também mais frágil diante das adversidades. Desastres naturais, conflitos armados, redes criminosas e degradação ambiental são apenas algumas das crises que desafiam a humanidade. A segurança e a estabilidade globais dependem da nossa capacidade de observar, antecipar e responder a crises.

É nesse cenário que as tecnologias de observação da Terra se apresentam como um recurso essencial, transformando a forma como monitorizamos, prevenimos e reagimos a esses problemas, ao oferecerem informações precisas e oportunas que facilitam uma resposta coordenada e eficaz.

O programa Copernicus, da União Europeia, é um exemplo que merece destaque. A capacidade de providenciar um instrumento que oferece imagens detalhadas e informações precisas em tempo quase real é algo extraordinário. Acompanhar fluxos migratórios, monitorizar zonas de conflito, rastrear redes de tráfico humano ou gerar alertas precoces para catástrofes são apenas algumas das aplicações práticas desta tecnologia.

Quando milhares de bombeiros enfrentaram mais de 100 fogos florestais em Portugal, o serviço Copernicus Emergency Management Service (CEMS) foi ativado para fornecer mapas e dados. O mesmo aconteceu durante as inundações devastadoras em Espanha, onde oito horas de chuva equivaleram a um ano inteiro de precipitação, causando perdas humanas e materiais. Estas informações, processadas e disponibilizadas de forma rápida, foram vitais para apoiar decisões nos momentos mais críticos.

Para além da resposta imediata, o uso de imagens de satélite pode ter um impacto eficaz na prevenção e recuperação de crises. A combinação de imagens de satélite com outras fontes de dados, e com a modelação e inteligência artificial, permite mapear riscos, simular desastres, estimar impactos e traçar tendências para o futuro. As tecnologias de observação da Terra proporcionam um avanço que muda paradigmas. O Copernicus não é apenas uma ferramenta reativa; é também um aliado essencial na construção de um futuro sustentável.

É nesta dinâmica multidisciplinar que o Copernicus se coloca como uma ferramenta de valor indiscutível no seguimento do compromisso da União Europeia com as alterações climáticas, através do Pacto Verde Europeu (Green Deal). Este plano ambicioso visa reduzir a zero as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, promovendo a utilização eficiente dos recursos e dissociando o crescimento económico do consumo excessivo. Ao fornecer dados precisos sobre a qualidade do ar, o uso eficiente do solo, a degradação de ecossistemas e as alterações climáticas, a observação da Terra contribui diretamente para as metas ecológicas, promovendo o alinhamento das decisões políticas e económicas com os objetivos sustentáveis da Europa.

No entanto, a existência destas ferramentas não é suficiente por si só. É necessária uma coordenação global e um compromisso político forte para garantir que a informação gerada seja utilizada de forma eficaz e atempada. A capacidade de agir rapidamente, de forma coordenada e com base em dados precisos, é o que distingue uma resposta eficaz de uma oportunidade perdida.

As imagens de satélite e a observação da Terra são, por isso, muito mais do que uma ferramenta tecnológica avançada: são uma resposta concreta aos desafios de um mundo em constante mudança. O seu papel na prevenção de crises, na gestão de desastres e na segurança global é fundamental para proteger vidas, recursos e o futuro comum da humanidade. Num contexto em que a paz e a estabilidade são tão voláteis, contar com o “olhar omnipresente” do espaço significa ter a capacidade de agir antes que seja tarde de mais.