A revista “The Economist” escreveu um artigo sobre o que poderá ser o futuro das moedas digitais, concretamente a denominada ‘Govcoin’, i.e. moedas digitais emitidas por estados e bancos centrais.

Finalmente o sector financeiro mundial parece ter percebido de vez o valor (ou não) das bitcoins e do caos que elas poderiam causar no mercado global se continuassem a viver na “anarquia” de então. Por exemplo, recentemente, as criptomoedas caíram 20% em apenas dois dias (uma perda de valor de cerca de 333,3 mil milhões de dólares) e algumas moedas digitais perderam 50% do seu valor em apenas uma semana. Uma queda drástica que mexeu com o mercado, que, de imediato questionou se a bolha das moedas digitais tinha finalmente estourado.

“Evidentemente que não!”, disseram os mais otimistas. “Evidentemente que sim!”, disseram os mais pessimistas. Já a “The Economist” defendeu uma posição mais moderada, referindo que futuro das criptomoedas dependeria em muito da posição dos bancos (com muitos com um pé atrás em relação a este tipo de negócios) e, principalmente, dos governos e das suas ‘Govcoins’.

Ao que parece, o rumo a tomar pelo mercado financeiro e político caminha para a sua proliferação. Teremos assim o “In tech we trust”, ou seja, a tecnologia como base do novo paradigma monetário, relegando para segundo plano as moedas e as notas.

No entanto, e apesar de ainda existir uma certa incógnita sobre os caminhos a seguir, o que não podemos negar é que a estabilidade do sistema financeiro determina nos dias de hoje uma posição clara dos players, principalmente por parte dos bancos centrais, que não podem ficar indiferentes ao que atualmente acontece, como a utilização e a aposta massiva das moedas digitais, inclusive de grandes fundos de investimento, e a ascensão das Big Tech financeiras, muitas delas impossíveis de serem supervisionadas como entendemos hoje aquilo a que chamamos de supervisão.

O amanhã ainda é incerto, mas muitos especialistas garantem que o futuro das bitcoins não emitidas pelos governos tem os dias contados, como escreveu Hsia Hua Sheng na sua conta do LinkedIn. O vice-presidente do Bank of China no Brasil acredita que as criptomoedas que estejam fora da alçada governamental serão ilegais e, portanto, não recomenda atualmente o investimento em bitcoins (uma posição que não é unânime entre os economistas).

Não é para menos, já que há indícios claros de que as “GovCoins” poderão ser uma realidade em breve. Na China, o Yuan digital (uma versão da moeda chinesa, mas em blockchain, a tecnologia que sustenta as moedas digitais como o bitcoin e o ethereum) já é uma realidade num programa piloto que pretende chegar a mais de 500 mil pessoas; na União Europeia, há o desejo do nascimento do Euro Digital até 2025, um caminho também seguido pelos Estados Unidos; na Grã-Bretanha, um grupo de trabalho estuda a sua implementação mais cedo, com o Banco de Inglaterra a ter destacado um dado que merece o olhar de todos: pelo menos um quinto dos depósitos dos clientes presentes em bancos comerciais poderão ser convertíveis em moedas digitais com a inclusão da libra digital.

Este é apenas um dos grandes problemas da implementação das ‘Govcoins’, o tsunami que poderá causar no mercado financeiro global, já que dificilmente não haverá sequelas nos mercados monetários a curto prazo, pois teremos um sistema onde os consumidores não terão necessidade de passar por bancos privados, o que poderá significar, por exemplo, que os depósitos abandonem de vez o sistema bancário, cabendo aos Estados o papel dos bancos tradicionais de hoje.

Mas há outras questões a levantar, principalmente a nível privado. Estaremos dispostos a “fornecer” aos governos o quanto gastamos, o quanto poupamos e onde investimos o nosso dinheiro, por exemplo? Estaremos dispostos a que os governos tenham conhecimento dos nossos movimentos financeiros?

Ou seja, há ainda um longo caminho a percorrer nos próximos tempos, principalmente a nível legislativo e regulador. No entanto, e ao que tudo indica, vivemos uma nova era no sistema financeiro e as ‘GovCoins’ poderão marcar o antes e o depois deste período, uma revolução que ficará certamente escrita nos livros de História Financeira do final do século XXI (se estes ainda existirem…).

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.