As propostas, agora conhecidas, do Programa Eleitoral do PS, em matéria de reforma eleitoral, são uma pequena amostra até onde vai o oportunismo e o eleitoralismo. Mas o regresso dos círculos uninominais é também ele um comovente anúncio de mais uma convergência em matéria estruturante com o PSD.

Tripudiando sobre a Constituição, nega, mais uma vez, a regionalização, que tinha anunciado ser na legislatura que aí vinha. E, nesta matéria, começa por propor a criação da desigualdade dos portugueses conforme vivam numa das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, ou vivam na “província”. Os cidadãos metropolitanos terão direito a eleger directamente uma assembleia metropolitana que elegerá o respectivo executivo. Os “provincianos”, portugueses de segunda, terão direito a ver os membros das câmaras e das assembleias municipais eleger os executivos das CCDR.

Mas o suco da barbatana é os eleitores passarem a escolher o seu deputado ou deputada.

Como é sabido, os círculos uninominais têm dado um grande resultado onde estão em vigor. A abstenção é quase nula! E, então, as políticas são muito diferentes. Nem neoliberalismo nem populismo, nem desigualdades. Nem há corrupção, nem nada. Alguém será capaz de esclarecer os bons resultados do sistema uninominal inglês, inclusive no combate ao “populismo”, e à “desafeição” aos partidos e à política?

Farage é um bom símbolo dos uninominais. Tanta preocupação com o “populismo” e depois, mais um instrumento privilegiado. A forte polarização em candidatos, e não em listas e projectos, nas campanhas em círculos uninominais só pode dar-lhe gás. Qual projecto político, qual quê? Para quê partidos? Basta pertencer a um painel de comentadores da bola!

Sabemos, também, como as alterações feitas nas eleições e funcionamento das autarquias têm dado bons resultados. Com as listas dos cidadãos eleitores e com a forte presidencialização dos executivos camarários, tudo melhorou. E cada vez mais se elegem e reelegem impolutos e independentes candidatos. Candidatos, sempre em trânsito da “independência” para um partido (qualquer um serve), ou de um partido para a “independência”! Desde que fiquem a mandar… Isto é, com os círculos uninominais, com uma boa mistura de “notoriedade” dos candidatos, meia dose de populismo e muito insuflar mediático, teremos uma Assembleia da República recheada de valentins e isaltinos.

PS e PSD sabem que na maioria desses círculos serão eleitos os seus candidatos. E não venham com a patranha do círculo nacional para compensar a proporcionalidade. A indução do voto útil nos uninominais não só não travará, como será transportada e transferida para esse círculo nacional, reproduzindo a bipolarização. Dinâmicas eleitorais e critérios mediáticos das disputas unipessoais, irão rearrumar intenções de voto, submergir projectos e propostas políticas a favor dos protagonistas “com nome” na disputa uninominal, a favor de “messias” e outros salvadores.

Para que a política possa continuar na mesma, a servir os interesses dos mesmos de sempre, isto é, sem resposta para os problemas dos portugueses e do país, nada como mudar de sistema eleitoral. Muda-se alguma coisa e tudo fica na mesma!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.