Para comemorar mais uma vitória eleitoral do PS, o regime serve-nos agora a ‘Operação Teia’ – que, no fundo, parece ser uma extensão da ‘Operação Éter’ (sete milhões de euros, no Turismo do Porto); que, por sua vez, se segue ao caso da deputada Hortense Martins (subsídios europeus, em Castelo Branco); que, no fundo, é a expressão regional do que se passa a nível nacional com as nomeações familiares; etc. etc.
O tema é recorrente mas não merece folga: o longo exercício do poder tornou Portugal um País doente. De Norte a Sul, sobretudo no PS, existe muita gente já incapaz de descortinar o crime nas trocas de favores. A rotina do exercício do poder desaguou numa espécie de ‘direito natural’ a assegurar a boa vida para familiares e amigos.
Na República que agora temos, com a sua ética muito específica, as autarquias seguem a lógica do mundo empresarial tutelado pelo Estado. E perante esta realidade, na qual ainda não se terá começado a escrutinar devidamente a gestão imobiliária feita pelo poder local, torna-se fácil identificar uma das causas do tremendo grau de abstenção que domina as eleições portuguesas: o nojo pela corrupção instalada.
Compreendo o silêncio de António Costa sobre a matéria. A doença do partido, evidenciada ao mais alto nível pelo caso de José Sócrates, é tão grave – e ele conhece-la-á melhor do que qualquer outra pessoa – que a estratégia adequada talvez seja voltar a seguir em frente mesmo perante a detenção de mais dois militantes históricos, como são os presidentes de Câmara de Santo Tirso (Joaquim Couto) e Barcelos (Miguel Costa Gomes).
A única coisa difícil de entender é a passividade política dos outros partidos, nomeadamente o PSD.
Como é que Rui Rio, perante um País mergulhado numa crise de corrupção sem paralelo, com o Estado capturado por seitas organizadas, continua a fazer política como se nada disto existisse?
Eu imagino que a realidade do PSD tenha muitos pontos de contacto com a do PS. Há ‘doutores’ com títulos comprados nas mesmas universidades. Letrados a exercer nos mesmos escritórios. Fluxos financeiros a passar pelos mesmos canais. Até haverá outras autarquias familiares e oligárquicas em tons de laranja. Mas como é que, perante uma realidade destas, a estratégia política do PSD não contempla uma agenda de combate nacional à corrupção? E como é que todos os outros partidos, sobretudo aqueles que não fazem parte da grande rede autárquica, como o BE e o CDS, ou que sempre estiveram fora do poder nacional, como o PCP, são capazes de alinhar na farsa e fingirem que nada se está a passar? É terrível pensar como pode haver aqui um qualquer elo a cimentar toda esta ‘desatenção’.
Volto ao PSD. O partido definha. Portugal parece destinado a ficar sem alternativa de governo e Rui Rio continua a agitar os temas de sempre, da revisão constitucional aos “entendimentos de regime” e a preocupar-se com os críticos internos. O PAN e o BE já levam a bandeira da defesa das questões ambientais. E, sobrando outra das mais urgentes, a do combate à corrupção, torna-se incompreensível ver o segundo maior partido nacional paralisado num tema que além de ser vital para a sociedade portuguesa podia ajudar a recuperar uma parte da cidadania desgostosa.
Há 230 mil portugueses, quase 7% das pessoas recenseadas, que, no domingo passado, se deram ao trabalho de ir às secções de voto para não escolherem qualquer partido. Não deve ser por não se preocuparem com o País.