Muito recentemente, soube-se pelos meios de comunicação social que foram presos alguns voluntários de Organizações Não Governamentais (ONG) em território grego. A razão parece ter sido a ajuda na entrada ilegal de imigrantes, ou seja, este auxílio afigura-se como um crime que pode ser enquadrado como participação em organização criminosa, caso assim se prove e venha a ser defendido.

Há várias versões sobre o que se estará a passar. O Estado grego atesta que, efectivamente, há tráfego ilegal de refugiados e as ONG afirmam que estas acções da Grécia são uma tentativa política de diminuir a sua acção humanitária no país.

Independentemente desta situação estar ainda por esclarecer, estas notícias lembram-nos, ou assim deveriam, que a situação dos refugiados na Europa ainda está longe de estar resolvida.

Na verdade, os recentes acontecimentos ocorridos na Alemanha, em Chemnitz, onde um assassinato alegadamente cometido por vários imigrantes espoletou manifestações da extrema-direita, que se materializaram na perseguição de vários estrangeiros na cidade, são apenas mais um sinal de que o dia-a-dia enforma um agudizar da situação extrema do “nós” e “eles”. Sendo “nós” os europeus e “eles” os que, não sendo europeus, querem vir para a Europa e aqui permanecer. Seria mais simples se esta questão fosse mais do que um maniqueísmo, uma matéria a preto e branco fácil de discernir. Seria mais simples, mas não é.

Falta à Europa uma solução, ou uma tentativa de solucionar esta situação de uma maneira mais coordenada. Mas não podemos esquecer que tudo nesse âmbito depende, em essência, das lógicas eleitorais ao nível nacional. Sem pensarmos nessa realidade, por mais exclusivos ou humanitários que sejamos, dificilmente poderemos acreditar numa solução conjunta e coordenada.

Quem conhece os eventos dos últimos cem anos na Europa deve pensar recorrentemente, e eu faço-o quase por método, que cometemos constantemente inúmeros erros. A história não se repete, mas tendo a pensar que a racionalização que nós humanos fazemos tem, desde sempre, muitos pontos em comum.

Nas fronteiras do Velho Continente continuam a existir realidades que vão contra todos os princípios éticos instituídos ao longo do tempo. E não, isso não acontece só nos EUA de Trump e na fronteira americana com o México. Acontece à nossa porta e coloca a civilização europeia em questão, porque põe em causa os seus princípios éticos. Curiosamente, negar ‘terra a salvo’ a quem luta pela sua sobrevivência é como encontrar-se a si no outro, no estrangeiro, à boa maneira kanteana, sendo que destrói mais as raízes europeias do que fechar fronteiras como alguns tão pobremente têm defendido.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.