1. Marta Temido demitiu-se do Ministério da Saúde. Era uma decisão há muito esperada e que, acreditamos, por teimosia sua foi sendo adiada.

Sai perante o caos nos centros hospitalares, que resultou em acontecimentos mediáticos horríveis, como a recente morte de uma grávida (embora a causa-consequência esteja a ser alvo de investigação pelo Ministério Público, e as conclusões estejam longe de ser conhecidas); ou perante a indisciplina dos gestores hospitalares, que se rebelaram perante a falta de técnicos, médicos e outros profissionais, encerrando serviços críticos como a obstetrícia.

Ao longo de meses foi, no entanto, o confronto com profissionais médicos que mais desgastou a ministra, assumindo esses mesmos profissionais atitudes de arrogância que, em circunstâncias de gestão corrente, seriam inadmissíveis.

Do lado da ex-ministra sabemos que teve pontos altos e baixos, sendo a responsável política que deu a cara durante os dois anos de pandemia, tendo passado por fases muito complicadas, mas que conseguiu cumprir. E foi esse modesto sucesso que lhe subiu à cabeça. Um ministério como o da Saúde é de grande exposição mediática e, por isso, seria sempre difícil de conter os altos e baixos.

Alguns dos seus apoiantes políticos bem a alertaram para aproveitar o ciclo de alta e sair pela porta grande. Ou seja, para não insistir em integrar o Governo de Costa de maioria absoluta. Mas insistiu e caiu-lhe a “bomba” em cima, que é a doença crónica do Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde de forma recorrente faltam meios e profissionais.

Bem se tentou defender argumentando que os defeitos vieram dos anos 80 do século passado, mas não pode ser desculpa aquilo que se passou no antigamente. O SNS está doente e Temido não ajudou a recuperá-lo, pelo contrário. Poderia ter saído pela porta grande, ser deputada e assumir o papel de “senadora”. Quis estar na ribalta que queima políticos e os torna descartáveis.

Urge encontrar soluções para reformular o SNS e pode ser que apareçam na era pós-Temido. Não será fácil encontrar um sucessor, como o primeiro-ministro António Costa já admitiu.

2. A melhoria da notação da República, dada pela agência de rating DBRS, que passou a dívida nacional para o nível de investment grade, é uma grande notícia e significa que para lá do défice não há vida. Os grandes bancos nacionais vão conseguir melhorar as respetivas notações logo que outras agências de rating mundiais, e que avaliam a dívida portuguesa, sigam a mesma orientação.

É, sobretudo, relevante porque o país vai conseguir o acesso aos mercados financeiros para a emissão de dívida em melhores condições. Claro que esta notícia não se reflete de imediato nos bolsos dos consumidores e na tesouraria das empresas, mas é um sinal de que nem tudo está mal orientado.

Independentemente de o país entrar no clube dos “países investment grade”, a verdade é que continuará a ter dificuldades, que já estão a ser sentidas, quer na energia, combustíveis e alimentação, quer nos serviços.

As dificuldades vão continuar a ser sentidas por quem tem empréstimos ou pelos jovens que não conseguem comprar ou arrendar uma habitação em espaços urbanos próximos de transportes. E com a desaceleração na economia neste terceiro trimestre, fruto da sazonalidade do turismo, as dores serão bem mais intensas.