A guerra na Ucrânia causou mudanças internas em toda a União Europeia (UE), sejam elas consequências indiretas nos preços da energia ou consequências diretas, dada a proximidade do conflito às fronteiras do Leste europeu. Desde política orçamental até geopolítica, espera-se que a UE tome uma posição que seja capaz de lidar com ameaças externas sem pôr em causa a sua nobre posição diplomática e económica. As decisões que a UE tomar agora, certamente irão traçar o futuro do equilíbrio de poderes mundial.
Até ao final de 2023, será imprudente esperar algo mais do que sucessivas tentativas de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, e promessas de maiores contribuições para a NATO, algo que os EUA anseiam desde os tempos de Trump. No entanto, no futuro menos próximo, é mais difícil esperar que a UE tenha uma resposta tão “passiva” face a ameaças tão próximas às suas fronteiras, daí já ouvirmos falar em medidas concretas, como a atribuição por parte dos Estados-membros de, pelo menos, 2% do PIB ao setor da Defesa, ou até a criação de um “Espaço Schengen Militar”.
Contudo, será certamente difícil esperar que todos os países da União estejam dispostos a ceder a sua supremacia sobre a sua Defesa, tal como aconteceu com França na Agricultura ou na Hungria na questão da Imigração, portanto, penso que uma transferência de poder de decisão poderá criar ruturas ainda maiores no panorama político da UE, cujo funcionamento tem vindo a ser posto em causa após sucessivas crises económicas e migratórias.
Concretamente, as diferenças de prioridades quanto a gastos em Segurança e Defesa são visíveis entre os países do Ocidente e do Leste europeu, portanto, é de esperar que qualquer esforço militar comum tenha de incorporar estas diferenças intrinsecamente, e discriminar países tendo em conta as suas prioridades, em prol do funcionamento interno da União.
A landscape política europeia será, também, alvo de mudança, o que se tornou percetível através dos fortes apelos por parte de Roberta Metsola no Parlamento, para que os europeus não se “inclinassem” para os extremos políticos. Apesar destes apelos serem feitos no âmbito das eleições europeias, não será de todo errado generalizar o propósito destas declarações, dado os resultados das recentes eleições na Grécia e das sondagens, que preveem o crescimento da extrema-direita por toda a Europa.
Acompanhadas por mudanças de poder radicais e nacionalistas, as consequências de uma maior militarização poderão afetar negativamente os esforços humanitários de acolhimento de refugiados, que marcaram o principal esforço coletivo europeu da década passada. Por isso, é importante que qualquer esforço europeu de compromisso para a segurança da União venha devidamente acompanhado de compromissos laterais para com os refugiados, a transição energética e o alargamento da UE.
Em suma, e tendo em conta a delicada natureza dos tópicos que englobam a segurança europeia, é importante pensar o futuro não só pelo olhar com que analisámos a guerra na Ucrânia, mas também por um olhar humanitário e europeísta, em prol da paz e do bom funcionamento da União Europeia.
Este artigo dá seguimento a um debate realizado na NOVA SBE através do Economia Viva, um evento que foi organizado pelo Nova Economics Club (NEC), um clube de economia composto unicamente por estudantes da faculdade. O debate sobre o futuro da segurança europeia contou com a nobre participação de Rachel Rizzo e Ricardo Borges de Castro e a moderação de Filipe Caetano. O debate poderá ser revisto, em breve, nos canais oficiais do NEC.
O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.