O Museu Tussaud do Texas retirou a figura de cera de Trump porque os visitantes esmurravam-lhe a cara. Como ninguém pensou nisso antes? Claro que coisas destas criam oportunidades de negócios, como criar uma linha de punching-balls para ginásio com a cara dele; sempre é mais simpático que imprimir papel higiénico com a sua facie. Não que não mereça: em 2017 ele postou um vídeo no Facebook a dar um soco na cara da CNN. Agora, é ‘retribution’.
Trump ainda há de dar um soco na cara da América, que não o quis como presidente. Só admira não ter dito “I’ll be back!”, talvez por ter direitos de autor. Mas como vingança, não consegue chegar aos calcanhares de Miles Walker, dono da OK Walker Motoworks, em Atlanta. Só pagou o último salário a Andreas Flaten, que se despediu para não o aturar, depois dele se queixar às autoridades por não ter recebido os 915 dólares que lhe eram devidos.
Vai disto, Walker despejou-lhe 90 mil moedas de cêntimo ensopadas em óleo à porta; agora Flaten passa os serões a lavar moedas. Walker, face à indignação e perda de clientes, declarou à televisão local não se lembrar de o ter feito. Diz o ditado: antes de pisares o caminho da vingança, cava duas campas.
Ao longo da História, a vingança foi fonte de satisfação e transvasou para a literatura. A “Ilíada” é uma ode à vingança: Menelau põe a Grécia em guerra com Troia para se vingar de Páris por lhe ter roubado a mulher, Aquiles mata Heitor e arrasta o corpo à volta das muralhas para se vingar de ele ter morto Pátrocles; só há gente a vingar-se. Hamlet, claro, fica-lhe perto, e cunhou o género literário ‘revenge tragedy’, no qual o herói sofre uma perda (a morte de alguém) e passa a história a vingar-se.
Na verdade, o percussor do género foi “A Tragédia Espanhola”, de Thomas Kyd, traduzida para castelhano só em 2006, 460 anos depois, talvez por vingança. E é impossível ignorar o Conde de Monte Cristo. Se estas obras-primas foram escritas por quem se quis vingar dos infortúnios na vida real, valeu a pena.
Vida real que não fica atrás da ficção. César foi preso por piratas; pagou resgate, caçou-os e crucificou-os. Boudica dizimou os romanos para se vingar de terem roubado as terras e escravizado o seu povo.
Por cá sabemos todos o que Pedro fez aos assassinos de Inês. Murrieta caçou e executou os assassinos do irmão, inspirando a figura do Zorro. Heemeyer construiu o Killdozer e em 2004 destruiu vários edifícios em Granby, no Colorado, incluindo a Câmara Municipal e a casa do presidente da Câmara, para se vingar de uma disputa de terrenos.
Portanto, se lhe aumentarem os impostos ou não o deixarem fazer obras, pinte a repartição de finanças de amarelo ou fure os pneus ao Presidente da Câmara. Ponha umas vacas no quintal ou asse sardinhas todos os dias para irritar os vizinhos. Tem amplos exemplos históricos e pode ser a próxima peça literária. Vingar é humano, e dá uma satisfação!