Este Verão tem sido particularmente pouco favorável à geração de temas de discussão. O mês de Julho foi por cá menos quente do que no resto da Europa do Sul, e embora as temperaturas do início de Agosto tenham disparado, o número de fogos e a área ardida foram (até agora) bastante inferiores ao que se verificou nos anos anteriores.

Já em Agosto, e mesmo com essas elevadas temperaturas, a JMJ foi, a todos os títulos um sucesso, sem causar grandes transtornos a Lisboa, que resistiu à invasão de muitas centenas de milhares de peregrinos, com os transportes e os serviços a funcionarem sem problemas de maior.

Mas nem por isso deixou de haver tentativas de criar termas controversos. Por exemplo, as toneladas de lixo que os peregrinos deixaram no Parque do Oriente. Ou quantos foram e qual o valor dos contratos relacionados com a JMJ celebrados por ajuste directo.

Porém, como também costuma acontecer nesta época, as polémicas demonstraram-se pouco interessantes e pouco ou nada mobilizadoras. Mesmo a questão do nome da ponte pedonal sobre o Trancão e do Parque do Oriente, a merecer iniciativas contraditórias no site das procurações públicas online, não parece ter sido capaz de mobilizar a opinião do público em geral.

O país prepara-se agora para a retoma gradual de actividade. O primeiro sintoma é a realização das habituais festas de verão organizadas sobretudo no Algarve pelos diversos partidos, a marcarem a rentrée. São boas ocasiões para apresentar as ideias e propostas fundamentais de cada partido para o ano parlamentar que se avizinha.

Tenho sempre a esperança de que os partidos aproveitem este período para lançarem uma reflexão séria sobre o Portugal que temos e o Portugal que queremos para o nosso futuro e dos nossos filhos. Mas, normalmente, esta minha esperança sai frustrada. De facto, as iniciativas anunciadas pelos líderes partidários, sejam do partido do Governo sejam da oposição, são mais orientadas para problemas conjunturais e de curto prazo do que para a discussão de reformas de que o País está verdadeiramente necessitado.

O Verão de 2023 não trouxe nada de novo relativamente aos anos anteriores. Os discursos da rentrée, num ano que vai ser marcado pelas eleições para o Parlamento Europeu (e por isso tudo o que se disser vai ter consequências eleitorais) apontam para que o cenário seja, no essencial, uma repetição do passado. É pena.

O PS apresenta os sucessos que tem tido na sua governação, centrados nos temas económicos. Fala sobre as virtudes da gestão orçamental, a redução da dívida, os bons resultados das exportações e do turismo, a execução do PRR e, com base nos últimos dados estatísticos, sobre o facto de a evolução salarial ter vindo a permitir alguma recuperação do poder de compra pelos trabalhadores, sobretudo nas empresas de menor dimensão.

No essencial, descreve uma visão optimista, auto-congratulatória, realçando as virtudes da solução de estabilidade proporcionada pela maioria absoluta, pela relação franca e cordial com o Presidente da República, sem bem que admita que persistem problemas que ainda exigirão muito tempo e recursos. E fala também de redução dos impostos sobre as famílias (sobretudo o IRS), dos planos para impulsionar o mercado da habitação, do investimento no SNS, sobre a evolução na resolução da situação dos professores.

Por parte da oposição temos um discurso exactamente inverso. Pinta um quadro no mínimo cinzento, marcado pela enorme carga fiscal, pela persistência da inflação, pelas dificuldades de acesso ao crédito, pela crise da habitação, pela falência do SNS, pela fuga para o estrangeiro dos jovens mais qualificados em busca de melhores condições de vida.

Denuncia o rolo-compressor da maioria absoluta, os inúmeros casos que fragilizam politicamente os membros do Governo, a conflitualidade latente na relação entre o Governo e o Presidente da República, e alerta para o cansaço do primeiro-ministro, que anseia em ir para um cargo europeu. E exige ainda a redução dos impostos sobre as famílias (sobretudo o IRS), planos para impulsionar o mercado de habitação, investimento no SNS e a resolução da situação dos professores.

Ou seja, a silly season está a chegar ao fim. Face a isto, o que será o futuro, logo se verá. Noto, contudo, no cenário da preparação do Orçamento para 2024 uma rara (mas aparente) unanimidade entre o PS e o PSD em matéria redução do IRS. Aparente, porque há razões políticas que impedem, na prática, que se acorde a dimensão do corte fiscal… E, já agora, ninguém fala de um enorme elefante que está bem no meio da sala, que é o facto de a economia informal representar actualmente quase 35% do PIB.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.