Os millennials são os seres que nasceram naquele período entre a primeira eleição de Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos da América – ou a primeira vitória eleitoral de Cavaco Silva, depois da rodagem feita até à Figueira da Foz para ganhar o PSD – e a introdução do euro como moeda europeia; são os que vieram ao mundo entre o lançamento de Thriller e o atentado de má memória contra as Torres Gémeas; são aqueles para quem Mark Wahlberg é um ator, que nunca foi rapper ou modelo da Calvin Klein. São a geração Y, que vem logo a seguir à geração a que Douglas Coupland chamou X e têm uma característica que os define: são completamente digitais, cheios de zeros uns, completamente diferentes dos analógicos pais, que ainda tiveram cassetes, gira-discos, berlindes e televisão com dois canais. Estes filhos nasceram e desenvolveram-se totalmente no tempo dos computadores. A verdade é que o nosso ZX Spectrum é um velhinho de 1982. Os mais novos ainda me perguntam, espantados: “Ó mãe, mas não havia mesmo telemóveis quando eras pequena?”. Não havia, nem internet – tínhamos mesmo de ler livros, em papel.

Além de serem uma geração digital desde o início, aos millennials são também colados outros rótulos, menos abonatórios: são egoístas, preguiçosos e imaturos, dizem. Os pais – onde me incluo – mimaram-nos demais e não os prepararam para enfrentar dificuldades ou lidar com o fracasso. Bem, concordo com esta parte da geração parental que tenta por todos os meios fazer a papinha aos miúdos, mesmo quando já são marmanjos com barba rija, que pica quando dão beijinhos. Mas discordo da primeira parte, do individualismo que é só deles. Não creio que se trate da característica de uma geração, mas de uma tendência generalizada, que se acentua com o passar dos anos. Basta andar no trânsito de Lisboa e ver quem corre a meter-se à frente para chegar primeiro ao sinal vermelho, quem se atrevesse e entupa um cruzamento ou, o que conheço melhor, quem estacione em segunda fila bloqueando o trânsito. “É só um instantinho, que o meu Tomás vem já aí”.

O problema são todos os Tomás que estão na porta de saída, todas as mães e pais que os decidiram vir buscar à escola. Naquele momento, para aquelas pessoas, a recolha do Tomás é o mais importante e relativiza tudo o resto. A verdade é que temos vindo a perder aquela ideia cristã de ter em conta o outro, o que vem a seguir, o que é afetado pelas nossas ações. Até porque, a maioria das vezes, não fazemos ideia de quem é o outro. Só o conhecemos quando somos nós. Porque se for quem vem atrás, bem, que espere, porque “é só um instantinho”. Esta sociedade umbiguista, estacionada em segunda fila, é nossa e não deles. O problema é que vamos deixá-la por herança.