A Europa vive um problema económico grave. Quando a sua maior economia, a Alemanha, dá efetivos sinais de abrandamento, isso significa que todo o bloco continental está comprometido. Por alguma razão, a economia alemã é tradicionalmente considerada um dos “motores da Europa”.
O que antes era um modelo de estabilidade e crescimento, agora apresenta sinais de fragilidade, levantando questões sobre o futuro da maior economia da Europa. As dificuldades vão além de meros ciclos económicos conjunturais, apontando para mudanças estruturais e tendências globais que pressionam o modelo de crescimento alemão.
Historicamente, a força da Alemanha tem residido na sua vigorosa base industrial, com destaque para o setor automóvel. É muito claro para todos que a indústria alemã enfrenta desafios como a concorrência global, a transição energética e a escassez de mão de obra qualificada. A perda de competitividade no setor automóvel tem um impacto significativo no PIB do país e no crescimento do desemprego.
A crescente procura por veículos elétricos e o advento de tecnologias mais limpas têm pressionado as gigantes construtoras alemãs, que foram lentas a adaptar-se às novas exigências do mercado.
Outro tema incontornável é a crise energética. A dependência histórica da Alemanha do gás russo foi dramaticamente exposta após a invasão da Ucrânia em 2022. A necessidade de diversificar rapidamente suas fontes de energia levou a custos significativamente mais altos para empresas e consumidores.
A desaceleração da economia alemã impacta diretamente no crescimento económico dos demais países europeus, especialmente aqueles que dependem das exportações para a Alemanha. Por outro lado, a redução da procura alemã por produtos e serviços de outros países europeus irá levar necessariamente a uma desaceleração do crescimento em toda a região.
A economia alemã está num momento de transição crítica. Os desafios enfrentados não são apenas conjunturais, mas refletem uma necessidade de adaptação a um mundo em rápida mudança. Para manter seu status como líder económico global, a Alemanha terá de repensar as suas prioridades, acelerar reformas estruturais e investir num futuro mais sustentável e digital.
Tendo em conta estes desafios, a situação na Alemanha coloca dois grandes riscos para a Europa: a volatilidade nos mercados financeiros europeus, afetando o custo do crédito para empresas/governos e aumentando o risco de crises bancárias; assim como compromete a coesão da União Europeia, visto que os países membros da zona euro vão tentar encontrar soluções nacionais para resolver os seus problemas, em vez de soluções conjuntas a nível europeu.
Para inverter esta situação, o caminho pode passar pela adoção de políticas industriais coordenadas para proteger a indústria europeia da concorrência global e promover a reindustrialização. Essa política deverá estar alinhada ao investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que permitirá garantir a competitividade da Europa a longo prazo.