No próximo mês, Lisboa deveria receber delegações de todo o mundo para a Conferência dos Oceanos da ONU. Em conjunto com as Conferências das Nações Unidas sobre Biodiversidade e Alterações Climáticas, deveria ter sido uma das três principais conferências internacionais deste ano a juntar nações nesta luta concertada para salvar o nosso planeta.

Todas as conferências foram adiadas para 2021 por razões bem conhecidas. Mas nunca é de mais sublinhar que a deterioração dos oceanos, a perda de biodiversidade e as alterações climáticas, continuam a ser os desafios mais urgentes que o nosso planeta tem pela frente, apesar da crise mundial de Covid-19. As alterações climáticas representam aliás a maior ameaça a longo prazo. Como disse a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “não há vacina para as alterações climáticas”.

Clima, oceanos e biodiversidade estão todos ligados. As alterações climáticas causam perda de biodiversidade, sendo que a biodiversidade é um elemento vital na mitigação e adaptação às consequências das alterações climáticas. E uma grande parte desse ciclo tem lugar no oceano. É por isso que Reino Unido e Portugal estão fortemente comprometidos com o objetivo 30 por 30 –  ou seja, em conseguir que 30% do oceano esteja protegido até 2030.

A perda de biodiversidade, em terra e no oceano, não é apenas uma questão ambiental. Tem repercussões económicas significativas. O Relatório Global de Riscos para 2020 coloca a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema entre os cinco principais riscos a nível global. Pela primeira vez, todos os cinco principais riscos globais, em termos de probabilidade e gravidade do impacto, são ambientais.

Considerem os danos já causados. Nas últimas quatro décadas, assistiu-se a um declínio de 60% nas populações de vertebrados. Estudos mostram que um milhão de espécies animais e vegetais estão sob ameaça de extinção, e que os ritmos atuais de extinção estão a acelerar de forma alarmante.

O Relatório Dasgupta sobre a economia da biodiversidade, encomendado pelo governo Britânico, está a analisar a sustentabilidade da nossa relação com a natureza: o que retiramos dela, como transformamos o que dela retiramos e o que devolvemos à natureza; e ainda o que devemos fazer diferente para fortalecer os nossos recursos coletivos e os das gerações futuras. O relatório final será publicado ainda este ano.

O coronavírus é o exemplo gritante do que acontece quando a interação da humanidade com a natureza falha. Há ilações importantes a retirar. À medida que formos recuperando da pandemia de Covid-19, também teremos oportunidade de proteger e recuperar a natureza. As decisões que tomarmos irão estabelecer as bases para um crescimento sustentável e inclusivo, ou irão contribuir para fixar as emissões poluentes ao longo das próximas décadas e acelerar ainda mais os danos infligidos a um planeta cada vez mais frágil.