A sustentabilidade financeira das PME passará inevitavelmente pela sua pegada ambiental. A Comissão Europeia (CE) tomou a dianteira em matéria de alterações climáticas e a regulação associada terá impactos significativo na forma como as empresas se relacionam com o setor financeiro.

Trata-se de endereçar temas ambientais, mas em substância será um tema de alocação de capital – quem terá acesso a capital e a que preço, o que, por conseguinte, irá afetar a forma como as empresas operam e afetará toda a cadeia de valor, quer sejam as empresas de grande dimensão ou PME. A imposição de novos requisitos no setor financeiro é uma forma relativamente efetiva da CE endereçar esta mudança verde com abrangência transversal a todo o setor empresarial.

A breve trecho os bancos terão de divulgar o seu rácio de ativos verdes (GAR) que corresponderá aos seus créditos e investimentos considerados alinhados com os seis objetivos de sustentabilidade ambiental definidos pela CE. O rácio terá em conta as divulgações das empresas ao nível da sustentabilidade ambiental (percentagem de volume de negócios, investimentos e gastos operacionais associado a atividades alinhadas com os objetivos de sustentabilidade).

As implicações para os bancos podem ser diversas, mas é expectável que o GAR implique acomodar uma almofada de capital em função da sustentabilidade ambiental dos seus ativos.

Existem alguns pontos que importa explorar. Apesar da obrigatoriedade do reporte de sustentabilidade se aplicar às grandes empresas, elas não são obrigadas a estar alinhadas com os objetivos de sustentabilidade. No entanto, nesses casos as operações de financiamento não serão favoráveis para o GAR e por isso a disponibilidade de capital poderá ficar limitada e o spread a aplicar poderá ser menos competitivo.

Outro ponto relaciona-se com a atual aplicabilidade do reporte de sustentabilidade exclusiva às grandes empresas. É expectável que as PME tenham de efetuar divulgações de sustentabilidade a curto/médio prazo, pois os bancos deverão focar-se na sustentabilidade ambiental de todo o seu portefólio, incluindo operações com as PME, que são entidades com poucos recursos para responder a estes desafios. Sem surpresa, alguns bancos já estão a solicitar às empresas divulgações sobre sustentabilidade ambiental.

A limitação no acesso ao capital não será circunscrita aos empréstimos bancários. Os investidores estão cada vez mais sensibilizados para a relevância dos temas ambientais e os gestores de ativos em particular já implementam estratégias de investimento que excluem empresas consideradas não verdes. Em rondas de capital algumas startups também já começam a ter de abordar a sua sustentabilidade ambiental.

As empresas que tomarem a dianteira na divulgação e no alinhamento dos seus modelos de negócio aos objetivos de sustentabilidade ambiental poderão beneficiar de vantagens competitivas. O não alinhamento poderá implicar saídas do mercado, e menos acesso a capital e a um juro mais elevado, sobretudo para empresas muito dependentes do setor financeiro. Num período de subida de taxas de juro importa planear com antecipação como apoiar as PME a aceder a capital e com bonificação verde.