A política monetária já não é o que era, o BCE é o maior responsável. Após anos a facilitar e fomentar o acesso ao crédito, numa tentativa de crescer a economia, o BCE não percebeu que faltavam transformações e integrações estruturais essenciais ao desenvolvimento do sonho europeu.
Quando um banco central sobe a taxa de juro, aumenta não só o custo do crédito como também restringe o acesso a novos empréstimos. Por um lado, os agentes económicos com dívidas irão pagar mais, o que lhes diminui o rendimento disponível para o consumo ou investimento.
Por outro, quem pretende aceder a crédito para, por exemplo, comprar uma habitação, pode ficar excluído, devido à sua taxa de esforço, agora mais elevada, ou simplesmente porque o risco de conceder empréstimos é mais elevado e as próprias instituições financeiras preferem precaver-se.
Em resultado do aumento previsível das dificuldades de pagamento da prestação do crédito concedido para aquisição de habitação, o governo adoptou medidas para aliviar as prestações dos empréstimos celebrados até dia 15 de março de 2023, entre as quais permitir às famílias fixarem a taxa a 70% do valor da Euribor, durante dois anos. Assim, se a taxa Euribor do contrato for de 4%, para efeitos de cálculo da prestação será tida em conta uma taxa de 2,8%, acrescida do spread.
No fundo esta medida responde aos anseios de muitas famílias que procuravam junto dos bancos, a fixação das prestações no curto prazo, passando depois a taxa variável. O diferencial de prestações será posteriormente diluído nas prestações a partir do quarto ano até ao fim do contrato.
Há, no entanto, a clarificar que, apesar de positiva, a medida visa comprar tempo para que as famílias possam ganhar poder de compra e diminuir a asfixia e pressão financeira a que estão sujeitas. Neste momento, o governo, numa tentativa de anular as últimas subidas de juros pelo BCE, e proteger as famílias, corre o risco de passar a mensagem que após dois anos as taxas irão baixar, o que não é necessariamente verdade. Ao fixar a taxa Euribor a 2,8%, no exemplo acima, o governo está a permitir às famílias evitar o que se espera ser o pico dos juros na Europa, mas há que realçar que o tempo de juros negativos ou zero terminou e todos devem estar preparados para uma inflação estrutural mais elevada, devido a constrangimentos internacionais e à transição energética, que terá um peso elevado sobre as famílias.