Nos anos 60, o arquiteto Credic Price colocou esta questão, para que fosse possível refletir sobre o impacto do progresso tecnológico na arquitetura. Hoje, a tecnologia apresenta-se como o principal fator de progresso e de desenvolvimento, não se resumindo a um discurso sobre computadores ou internet. No novo paradigma socioeconómico, a tecnologia é assumida como um bem social, o meio para a agregação de valor, tornando-se, também, a chave na estratégica de definição de alternativas na inter-relação entre práticas de regeneração urbana e politicas públicas. A absorção coletiva da tecnologia e sua influência cada vez maior na vida quotidiana de cada um de nós ampliou formas pelas quais todos podemos transformar conexões distantes em relações coletivas. Dito isto, qual é então a questão?
As interfaces tecnopolíticas (plataformas online, apps, observatórios) têm, em toda a Europa, facilitado a ação, comunicação e gestão de políticas do governo das cidades e da sociedade civil. A questão da tecnopolítica, tem um papel cada vez mais significativo como campo de pensamento importante para teorizar sobre a autonomia cidadã frente às tecnologias de controle. A sua operacionalização imagina a apropriação da tecnologia no ativismo e cidadania, bem como, em ações para a qualificação e transformação dos espaços nas cidades. Mario Carpo, alerta para os fluxos bidirecionais gerados nas interfaces que favorecem um agenciamento mais complexo e consequente maior participação do cidadão em todas as etapas do planear, desenhar e produzir, inclusive em processos de decisão coletiva. Os futuros utilizadores dos espaços coletivos podem identificar-se, desta forma, desde o início, com o processo de decisão.
A questão passa, também, por redefinir as práticas arquitetónicas, as suas metodologias de regeneração urbana, uma rehumanização do espaço. Se refletirmos sobre o modo como a cidade é gerada e regenerada, compreendemos que o desenho é apenas uma parte. Propor uma visão mais integrada do território urbano, um espaço aberto de intervenção, que Inclua conhecimento não especializado e não técnico na tomada de decisão local, não deixará de lado as necessidades e expectativas dos mais diversos atores urbanos formais e informais. O que reposiciona o arquiteto na construção do problema e na sua melhor solução, o projeto.
Para inquirirmos sobre o papel do arquiteto, precisamos de rever práticas e compreender os efeitos políticos, económicos e sociais dos projetos no local. A arquitetura, em geral, tem ignorado o seu impacto social e relevância na sociedade como um todo. A questão está nos espaços de aprendizagem e ensino, na academia, que têm um papel, também, a desempenhar no processo de mudança crítica. O estudante de arquitetura ao usar o conhecimento para mapear, pode gerar um diversidade de questões que expõem a sua relevância na competência espacial e arquitetónica, e, consequentemente, gerar conhecimento alternativo.
A Escola de Verão Tecnopolíticas para a Regeneração Urbana, que se realizará no Barreiro em Setembro, apresenta-se como espaço de reflexão e experimentação, a oportunidade de partilhar práticas e metodologias arquitetónicas alternativas. Sublinha-se, assim, os territórios metropolitanos contemporâneos como criadores de redes de relações sociais, económicas, ambientais, culturais e digitais entre aqueles que os habitam, garantindo não só o desenvolvimento do território pensado em conjunto com os cidadãos, mas, também, a concretização das ideias como um esforço comum.