A atual pandemia COVID-19 alterou as nossas vidas de inúmeras maneiras e aumentou (ainda mais) a importância da tecnologia na nossa rotina pessoal e organizacional, promovendo o aparecimento de inúmeros desafios no seio das empresas, incluindo a necessidade de atingir uma rápida maturidade de transformação digital. As atividades de Mergers & Acquisitions (“M&A”, Fusões e Aquisições) provaram ser um forte aliado na preparação das organizações para esta “nova normalidade” digital.

No passado, o ecossistema das Tecnologias de Informação (“TI”) era muitas vezes considerado numa perspetiva “reativa”, i.e. uma preocupação pós-transação. Na realidade atual, o TI e as capacidades tecnológicas/digitais das empresas são, muitas vezes, a motivação por detrás da transação, quer seja na aquisição de novas tecnologias para uma produção mais eficiente e eficaz – integração horizontal – ou na aquisição de empresas com tecnologia que permitam aumentar o ownership do produto – integração vertical. Seja qual for a motivação, a Tecnologia é cada vez mais parte integrante e fundamental da estratégia de integração.

Sempre que uma empresa considera uma aquisição, tem que abordar o TI como parte fundamental do seu plano e procurar perceber/quantificar não só as capacidades, competências e tecnologias da empresa que está a pensar adquirir, mas também como é que estas se vão interligar no ecossistema conjunto das duas organizações e criar valor.

Numa integração horizontal, uma empresa pode estar motivada a realizar a aquisição com o objetivo de rapidamente modernizar o seu ecossistema de TI. Por exemplo, uma empresa que tem um ambiente de TI bastante desatualizado, em vez de incorrer em custos de atualização, procura adquirir uma empresa dotada de sistemas e processos modernizados, capazes de serem integrados no seu ecossistema.

No caso de uma aquisição vertical, temos um exemplo concreto da Apple, que em 2017 adquiriu uma empresa israelita – RealFace – de maneira a incorporar a tecnologia de reconhecimento facial desenvolvida por esta empresa nos principais produtos da Apple – iPhone e iPad.

Um benefício associado ao referido acima, mas que nem sempre é considerado/quantificado e que pode advir da aquisição de uma empresa, é o talento/capacidade digital que os colaboradores adquiridos vão trazer para a organização. Contudo, é necessário manter esse mesmo talento para que haja um acréscimo de valor para a organização, pelo que estratégias de retenção devem ser delineadas deste cedo.

Não obstante os benefícios e o valor acrescentado pela tecnologia nos planos de aquisição, as empresas com intenção de adquirir outras devem, também, ter em conta os potenciais desafios da integração de outro ecossistema de TI.

Algumas das potenciais empresas a adquirir podem já ter projetos de TI de grande dimensão que necessitarão de financiamento durante anos após a transação ser concluída. É por esse motivo que, durante o planeamento, deve ter-se em consideração o impacto financeiro de cada um dos projetos, bem como a capacidade que a empresa tem para os concluir, uma vez que grande parte dos projetos de implementação/atualização de TI tendem a ultrapassar tanto o orçamento como o prazo de entrega – sem acrescentar valor adicional. É por esse motivo que a execução de Due Diligence de TI (“DD de TI”) é fulcral no processo de aquisição. É necessário avaliar infraestruturas, aplicações e processos, e identificar sinergias e/ou áreas de criação de valor que vão resultar da integração das duas entidades ou da criação de valor que a tecnologia vai trazer para o negócio. Seria, igualmente, imprudente não incluir como desafio tecnológico, e que muitas vezes é subvalorizado, o tema da Cibersegurança, na medida em que é cada vez mais um tema de grande diferenciação, mas que normalmente só é tido em consideração quando algo corre menos bem. No nosso entendimento, com a crescente digitalização e deslocalização geográfica, as empresas devem considerar incluir nas DD de TI a avaliação das medidas de cibersegurança das empresas que estão a ponderar adquirir, para determinar em que medida os riscos inerentes estão minimizados, independentemente da dimensão da empresa. Um ataque devidamente direcionado a uma empresa pode impactar significativamente o negócio e afetar a operação normal de uma empresa.

A Tecnologia faz parte da grande maioria dos processos corporativos, por isso é imperativo que os ecossistemas tecnológicos das empresas envolvidas nas atividades de M&A sejam compatíveis (ou exista um plano para os tornar) e capazes de produzir sinergias e criar valor, só assim e através de uma eficiente integração será possível retirar o máximo valor dos ativos digitais. Caso a tecnologia não seja planeada e integrada corretamente, aquilo que seria potencialmente uma mais-valia pode transformar-se numa “quimera” de custos e desafios operacionais imensos.