Nos últimos doze meses, e por efeito direto da pandemia, o recurso ao trabalho remoto, ou teletrabalho, tornou-se a ferramenta ideal para vencer a distância, assegurar a continuidade e reagir à adversidade. A utilização do monitor, já de si imprescindível no quotidiano laboral, transformou-se no cartão de ponto digital e na forma mais apelativa para regressar a uma situação produtiva que o país carece para encontrar a bissetriz necessária para ultrapassar o impacto sanitário.

Todos já ouvimos falar das características do teletrabalho. Da desconfiança ao abuso, da perda de formalismo à intensidade de envolvimento pessoal, emergiu uma nova forma de organização do trabalho onde os horários não contam, a avaliação laboral ganha novos contornos, a formação deixa de ser prioridade e a relação pessoal se deteriora de modo crescente.

Os desafios que se colocam a este nível quando se retoma a atividade é visível no regresso ao escritório, à fila de trânsito, apesar de se manter o takeaway e o delivery, e de a marmita ter perdido relevância. Onde se equaciona o impacto no mercado dos escritórios, reduzindo custos sem perda de produtividade e evitando uma nova escravatura ou dependência da tecnologia e das comunicações.

Dois dos grandes desafios neste novo modelo de organização do trabalho, através do afastamento das pessoas do espaço físico normal de trabalho, respeitam à perda da relação pessoal fundamental na interação profissional porque lhe confere humanidade, e ao natural cansaço de ficar amarrado ao digital, pela imagem, som e correio eletrónico.

Aos chefes pedem-se novos mecanismos de distribuição de trabalho dentro de um horário diferente. Aos outros pede-se empenho, lealdade e adaptabilidade, exigindo-se novos esforços de concentração e de ligação mais prolongada. A ambos se exige a busca do ponto de equilíbrio para que a relação se restabeleça em padrões diferentes.

A questão será diferente num futuro próximo. Como será a integração de novos colaboradores, como se fará formação em ambiente de trabalho e qual o conceito de empresa, na sua múltipla dimensão profissional e pessoal?

Apesar de a lei admitir o teletrabalho, a sua dimensão nunca foi ponderada no modelo férreo em que se desenvolveu nestes meses. É fundamental encontrar forma de regular os custos pessoais, profissionais, financeiros e familiares desta mudança. Aqui, o Governo tem a natural obrigação de refletir e de apresentar uma solução para este desafio. E caso se mostre desinteressado ou incapaz através da tutela de apresentar uma proposta, o Parlamento deverá exigir uma solução específica, ponderada e não de mera retórica política para uma situação que ninguém deseja ver transformar-se num problema.