Hoje em dia, começa a vulgarizar-se o uso de programas de Inteligência Artificial (IA) como ferramenta de apoio para resumos, traduções, revisões, transcrições ou mesmo para expandir conceitos e ideias.

O “New York Times” (NYT) anunciou recentemente que iria usar a IA como ferramenta de auxílio nas tarefas de edição, copywriting, revisão e programação, e que os seus jornalistas e staff iriam receber formação e diretivas sobre o uso rigoroso destas ferramentas na redação do jornal. O NYT promete que os seus conteúdos continuarão a ser escritos e produzidos por jornalistas.

O NYT optou por alguma transparência, mas, considerando que o mundo dos grandes modelos de linguagem se valorou consideravelmente por se ter aproveitado de dados disponíveis na internet, de forma indiscriminada, até que ponto serão ferramentas viáveis a médio e longo prazo?

Há várias teorias da conspiração em torno da IA que dificilmente podem ser levadas a sério. A ‘teoria da internet morta’, por exemplo, descreve um mundo digital dominado pela atividade de bots e algoritmos, cujo objetivo seria manipular a população e mantê-la sob controlo.

A ironia é que, à medida que as ferramentas de IA Generativa continuarem a consumir dados disponibilizados na internet, é natural que atinjam um ponto em que já não haverá produção humana, levando à perda de qualidade dos conteúdos e até ao possível colapso dos modelos de linguagem.

De certo modo, jornais como o “New York Times” vão passar a contribuir para a própria canibalização da internet. Irão copiar-se a si próprios até à exaustão e estarão vulneráveis à desinformação. Já agora, o que irá acontecer quando a IA evoluir de tal forma que facilmente passa a fazer por inteiro o trabalho de um jornalista?

Vivemos num mundo estranho que parece estar disposto a não pagar por criatividade humana, mas que paga alegremente para que a tecnologia roube e copie a criatividade humana.

Aparentemente, uma teoria da conspiração ameaça tornar-se a metáfora perfeita para descrever o mundo dos criativos. Não só deixa de haver conteúdos genuínos e de qualidade, como se verifica um decréscimo de qualidade das interações humanas na internet.

De certa forma, já estamos todos a sentir esses efeitos no dia a dia. A internet, tal como a conhecíamos, está a transformar-se em algo bastante diferente, mais hediondo e pouco atrativo. E isso não é nenhuma teoria da conspiração, mas sim um facto. Saberemos aplicar normas e regras para travar este cenário absurdo?