O anúncio da chegada da terceira guerra mundial feito pelo canal de televisão “Russia Today” após a intervenção conjunta americana, britânica e francesa na Síria foi apenas mais uma peça no invisível jogo de xadrez em que se transformou a política internacional.

Os movimentos militares e a violência da destruição não são suficientes para travar guerras, e as estratégias de blocos que tentam ocupar espaços e territórios carecem de um complemento comunicacional em que cada parte tenta criar a sua razão pelo medo e pela insídia.

Há quem entenda estes cenários como ações geoestratégicas convincentes e justificáveis. Na verdade, não representam mais do que jogadas de interesse para manter ou chegar ao controlo de novos recursos, sejam energéticos, sejam de influência de poder, e para alargar as redes de negócio.

Não obstante o apoio que se tem dado às organizações internacionais no sentido de prevenir e impedir conflitos armados ou de os minimizar, manifestamente se denota a sua incapacidade face á crescente surdez aos apelos de paz, à preservação da vida humana e a salvaguarda de património universal.

É deprimente assistir ao desfilar de anunciados e sucessivos “bons espíritos” no Conselho de Segurança, que se alteram de acordo com o movimento do peão seguinte neste continuado exercício de ocupação de espaço noticioso, mais do que de território efetivo.

Enquanto isso, e em nome da paz, mantêm-se as ações de bombardeamento em bairros indefesos, o uso de armas químicas face à relutância de alguns desistirem do seu propósito, e em consequência, a morte de centenas de pessoas cujo único crime reside em habitar naquele local.

Entre apoios ou ataques militares assumidos ou negados, como na Crimeia e na Síria, envenenamentos dos que se atrevem a desistir, sucessivos ataques cibernéticos ou intervenções subtis influenciando resultados políticos, tem-se verificado um denominador comum. E só não acredita quem não está de boa-fé.

Reagiram alguns com ações diplomáticas e reforço de sanções. Outros, mais calculistas e assumindo o oportunismo, ficaram na penumbra da decisão para que outras crises, eventualmente do foro interno, não se assumissem.

O fim da Guerra Fria foi decretado após a queda do Muro de Berlim. Mas a cultura da subversão e da dissimulação manteve o seu percurso tortuoso. E os objetivos de dominação estratégica, controlo do poder e influência prosseguiram com a consolidação de um poder imperial. De facto, a terceira guerra mundial em termos tradicionais de tropas no chão, no ar e no mar não começou, nem começará. Podem alguns ainda usar mísseis, drones com bombas e armas químicas. A guerra, como a definimos, só alcança os fracos e os pequenos.

Os contornos de uma nova e verdadeira guerra global estão cada vez mais presentes. Não se usam balas, petardos ou bombas. Usam-se bytes, dados, notícias, intrigas e informações com precisão matemática. Destroem-se alianças, coligações e amizades. Cria-se divisão, dúvida e indecisão.

Esta será uma guerra que ainda tem de ser assumida, mas que atingirá os mais incautos e incrédulos. Mais uma vez, os menos preparados. Até ao momento em que se tornará evidente. E será sucessiva e não apenas de um Estado, mas de vários. Ou de várias origens, individual ou de entidades. Todos sem rosto e sem rasto.