Os portugueses são ótimos a desembaraçar-se de problemas. O “desenrascanço” é sem dúvida uma qualidade distintiva do Português. A nossa longa lista de virtudes inclui igualmente a bravura, a tolerância, a adaptabilidade e o pacifismo.

Já em matéria de defeitos, logo nas primeiras linhas, consta a nossa incapacidade para antecipar problemas e fazer bom planeamento. Foi assim que caímos em desgraça várias vezes ao longo da história. Mais recentemente, destaco a impreparação para a crise económica e financeira de 2008, que levou ao resgate ao Estado Português em 2011, e a má gestão das florestas e do território que propicia anualmente incêndios devastadores durante o verão e que este ano potenciou a tragédia que vitimou 64 pessoas em Pedrógão Grande.

A propósito das autárquicas em Lisboa, seria muito pertinente trazer para a primeira linha do debate político o problema da vulnerabilidade sísmica dacapital. Lisboa situa-se numa área de risco sísmico propensa à ocorrência de sismos de forte intensidade, de que foi um exemplo histórico o terremoto de 1755 (com uma magnitude de 8.5 na escala de Richter), eternizado mundialmente por Voltaire na comédia romântica “Cândido”, publicada em 1759.

Têm sido organizados debates e estudos por várias entidades públicas e privadas sobre este tema. Porém, há ainda um longo caminho a percorrer em matéria de concretização e execução para prevenir de forma séria o risco sísmico na cidade de Lisboa. Não foi por acaso que, no início deste ano, em reunião com vários deputados da Assembleia Municipal de Lisboa, o Professor Mário Lopes, do Instituto Superior Técnico, dizia que “se tivermos a repetição de 1755, um terço de Lisboa fica em escombros”. Para o Professor Mário Lopes “é como estar em cima de um barril de pólvora e a mecha estar a arder”.

Agora que a cidade de Lisboa vive um bom momento e que as contas municipais estão saneadas é a altura perfeita para nos anteciparmos à tragédia anunciada e traçarmos um plano ambicioso para fiscalizar os imóveis em construção e requalificação, e identificar e reforçar os imóveis e infraestruturas em risco. Como habitante de Lisboa, deixo aqui este repto para o debate político das autárquicas e para os programas eleitorais dos vários candidatos.