Em que momento – ou universo – poderia acreditar-se que Nicolás Maduro perderia as eleições na Venezuela? O cenário político venezuelano, há anos dominado pelo Chavismo e Madurismo, precisa de um processo longo de desintoxicação bolivariana. E para que isso aconteça, não será a população com seu voto que logrará os resultados. É necessário que a classe dominante venezuelana embarque na ideia de mudança.

Agora, fazer isso é praticamente impossível, diante dos interesses que Chávez e Maduro lograram contemplar ao longo das décadas que se encontram no poder. Mudar este cenário, sem amnistia garantida ou a promessa de manutenção dos privilégios é, praticamente, impossível. A outra opção seria o banho de sangue.

A conjuntura venezuelana é complicada porque já há muito tempo que o escalão superior daquele Estado transformou o país num estado mafioso, com corrupção rampante e uma associação daninha com o narcotráfico, crime organizado, contrabando de armas e inúmeras outras atividades ilícitas, destruindo todas as instituições democráticas existentes antes do período Chávez. O regime Maduro não se comporta nem opera de acordo com princípios democráticos ou de valores morais, uma vez que o Estado venezuelano está totalmente dominado.

Os Estados Unidos, apesar do enorme interesse econômico ainda existente na Venezuela em razão de suas reservas petrolíferas, não têm interesse numa intervenção, particularmente considerando o histórico negativo do envolvimento norte-americano no Iraque e no Afeganistão. Os Estados Unidos – uma potência mundial em declínio – aprenderam a lição de que a intervenção, por menor que seja, gera a obrigação de assumir, por tempo indeterminado, o controle e a manutenção do local da intervenção, além do seu direcionamento governamental. A quebra do statu quo implica a obrigação do gerenciamento a posteriori.

Os Maduristas, encastelados em toda a Administração, precisam ter a certeza de que serão amnistiados numa eventual transição. Além disso, restaria saber o que fazer com Nicolás Maduro. Afinal, ditadores no mundo moderno, em geral, acabam assassinados ou presos, por mais que consigam esconder-se em alguma jurisdição que lhes abrigue.

O dia seguinte da Venezuela é muito complicado. Maduro previu um banho de sangue. Não está de todo errado. O establishment político só renunciará ao poder por meio de negociação – uma amnistia ampla, geral e irrestrita – ou terá de ser extirpada radicalmente. A situação é muito séria.