Os Açores são Portugal. Nunca foram outra coisa. Outras zonas do país pertenceram ao Reino de Leão, integraram o Califado de Córdova ou os impérios Almorávida e Almóada. Outras áreas deste país foram províncias do Império Romano ou integraram os reinos Suevo e Visigodo. Muitas terras de Portugal continental foram muitas coisas antes de serem Portugal. Os Açores nunca foi outra coisa: sempre foram Portugal.

Nos Açores nunca ondulou outra bandeira, nem mesmo nos tempos da União Ibérica, que juntou os reinos de Portugal, Castela e Aragão. Os Açores sempre foram Portugal. Os Açores continuaram a resistir à hegemonia castelhana após o resto do país ter claudicado perante Filipe II de Castela.

Sim, os Açores sempre foram Portugal. Nos Açores nunca se apagou a derradeira centelha da liberdade, mesmo nas noites longas da opressão, quando a escuridão, a negritude e as trevas da tirania se juntaram às brumas que marcam a existência das ilhas desse arquipélago.

Sim, os Açores sempre foram Portugal. Mesmo quando Portugal foi a pátria madrasta perdida nas florestas da Amazónia, nas especiarias da Índia, nos cavalos de Ormuz e nas porcelanas chinesas. Durante muito tempo, demasiado tempo, os açorianos foram uma espécie de tribo perdida de Israel, esquecidos por tudo e por todos.

E quando, seis séculos depois, os fumos do império se dissiparam, Portugal só não passou a terminar no Terreiro do Paço porque nos Açores, muito para além do horizonte tacanho de quem não logra ver além do estuário do Tejo, continuou a ondular a gloriosa bandeira das cinco quinas. Não fosse isso, e a grandiosidade do mar dos Açores, Portugal estaria hoje confinado aos seus estreitos limites medievais.

A Autonomia de 1976 chegou com séculos de atraso e não apagou os tempos longos de esquecimento e ingratidão por tudo o que os Açores significaram para este país ao longo de tanto tempo.

Ingratidão em relação às gerações de açorianos que sustentaram as praças do Norte de África, aos que resistiram a gerações de corsários e piratas, como o mesmíssimo Francis Drake, que infestaram as águas açorianas durante séculos ou até os povoadores-soldados dos confins do império na América do Sul, no que são hoje os territórios dos Estados brasileiros do Rio Grande Sul e de Santa Catarina.

Nesta nova era, no tempo das autonomias, os Açores nunca exigiram outra coisa que não a oportunidade de começar de novo, mas desta vez de forma justa. Esquecer o esquecimento. Respeitar a autonomia das escolhas açorianas no quadro da soberania nacional. Fazer um grande Portugal Atlântico, que dê perenidade ao projeto nacional.

O novo pacto, o pacto do Portugal democrático e autonómico, significa que, nos termos da Constituição, os órgãos de soberania do país devem trabalhar, ombro com ombro, com os órgãos de governo próprio dos Açores para servir o povo dos Açores. Para servir, em suma, Portugal. Porque servir os Açores é servir Portugal.

A forma como o Governo de António Costa está a tratar os Açores e o seu povo é uma vergonha. Uma traição aos interesses nacionais. Tudo devido a uma mediocridade de propósitos, por falta de sentido de Estado e pela falta de dimensão política de António Costa para ser Primeiro-Ministro de uma nação tão antiga como Portugal.

O objetivo é asfixiar financeiramente um Governo de uma cor política diferente. O propósito é servir interesses partidários tacanhos em detrimento dos interesses dos Açores e de Portugal. Sim, porque os interesses de Portugal e dos Açores são indissociáveis.

Matar a Universidade dos Açores serve os interesses de Portugal? Não, não serve! A Portugal e aos Açores interessa ter um grande centro de conhecimento numa zona do território que representa muito do futuro deste país.

Persistir em manter nos Açores, na ilha de São Miguel, uma prisão com condições abjetas, que embrutece os homens e lhes retira todas as condições de preservação da sua dignidade e humanidade, serve os interesses de Portugal e dos Açores? Não, não serve! Envergonha as nossas consciências. Faz de todos nós cúmplices da mais abjeta barbárie.

O atraso no pagamento à SATA das Obrigações de Serviço Público relacionadas com as ilhas do Pico, Santa Maria, Faial e ainda as ligações entre os Açores e o Funchal, no quadro da coesão nacional, é admissível? Isto quando se sabe as tremendas dificuldades que a empresa está a enfrentar? Não, não é admissível. Trata-se de um ato premeditado e vergonhoso de quem quer prejudicar o Governo dos Açores, mas que ataca os interesses de Portugal e do povo dos Açores.

E o que dizer da cobardia que significa abandonar a ilha das Flores num dos piores momentos da sua História, quando tem de enfrentar invernos tempestuosos e mantém o seu porto destruído, algo que coloca em causa o seu abastecimento de forma dramática. Não, não é admissível! A deserção do Governo de Portugal neste assunto constitui uma deslealdade que perdurará nos anais da História.

A exclusão dos Açores, no âmbito dos apoios extraordinários ao poder local, aos empresários açorianos ou à agricultura, são indecorosos para qualquer português. Os textos da exclusão, definindo que Portugal acaba no litoral peninsular, constituem uma traição.

É crucial para a unidade do país que no poder em Lisboa se sente, o mais depressa possível, um Governo que respeite o povo dos Açores. Que não o queira separar e segregar do resto da nação portuguesa.

Sim, porque os Açores nunca foram outra coisa: sempre foram Portugal.