A vantagem de ser pai, docente universitário e profissional de Transformação Digital é que me permite tomar consciência direta do impacto que a evolução tecnológica tem no futuro da sociedade.
Em particular, a interação que vamos tendo com os filhos e os seus amigos, com as várias gerações de alunos, desde adultos em regime pós-laboral até aos jovens de 18 anos, acabadinhos de chegar à universidade, permite ir aferindo como, nestes últimos dez anos, as novas gerações mudaram radicalmente a forma como interagem com a tecnologia e informação e como adquirem e potenciam o conhecimento.
De um outro ponto de vista, e pelo facto de ter algumas funções de apoio à gestão na universidade, tenho o privilégio de interagir com docentes de várias gerações, desde os mais jovens de 30 anos até aos de 60 ou mais anos, e verifico a grande pressão de adaptação com que se debatem, pois como ouvi recentemente, “são profissionais que nasceram no século XX, formados com metodologias do século XIX e que ensinam no século XXI”.
Nestas análises transversais com os vários interlocutores do processo educativo, coloca-se um enorme desafio para o futuro do sucesso da educação: o papel do professor. Quais são os professores que não têm hoje dificuldade em garantir a atenção dos seus alunos durante uma ou duas horas, quando há uma pressão social chamada Facebook, Instagram ou WhatsApp simultânea à aula? Como é que o professor leciona e questiona quando o aluno “googla” e responde cinco segundos depois, dando ainda mais informação que o solicitado?
A tendência normal de resistência à mudança e à evolução tecnológica por parte do professor é a de querer bloquear o acesso às tecnologias, limitando qualquer veleidade de ser colocado em causa por informações externas à aula. Mas será este o processo mais adequado?
O desafio para quem tem 40, 50 ou 60 anos de idade e leciona no ensino básico e secundário ou universitário, foi educado sem qualquer recurso a tecnologias e carece de uma transformação digital dos seus processos pedagógicos, passa, forçosamente, por aprender a transformar o seu modelo de ensino “quase” unidirecional (professor “debita” e aluno “ouve”) em modelos de ensino em rede, com a integração baseada em modelos de investigação, criatividade e produção através da Internet, mini testes, questionários, inquéritos em aula e em tempo real, tudo online.
Tal como passa também pela integração de encarregados de educação em projetos online, com a produção e consulta de conteúdos didáticos com base multimédia e por comunicar de forma constante com os alunos, colegas e comunidade de ensino através de plataformas de messaging (p.e. WhatsApp), redes sociais, entre outros.
Do ponto de vista prático, o modelo de ensino tem de começar a replicar os processos empresariais de gestão de projetos, nos quais o planeamento, a definição de entregáveis e de requisitos são essenciais. Essa transformação facilitará o futuro da integração do aluno na sua carreira profissional.
Assim como o professor deve tornar-se num gestor de projeto do século XXI, onde os modelos de comunicação e de desenvolvimento são digitais, reforçando o conceito do professor enquanto tutor de uma rede de stakeholders. Mas, para isso, é necessário investir forte na formação dos docentes e da comunidade escolar e universitária. Isto porque também os professores não nascem ensinados!