Existem muitos mitos sobre a transição energética e, infelizmente, são propagados pela imprensa e alguns setores sociais e políticos.

O primeiro mito é confundir o consumo de eletricidade com o consumo energético. Um país pode ter um consumo de eletricidade limpo, mas ter uma matriz energética fóssil e não amiga do ambiente. É o caso de Portugal, onde o consumo elétrico é 60% de fontes renováveis, mas se olharmos para a matriz energética portuguesa, esta é fóssil em 70% (essencialmente crude e gás natural).

O segundo mito é pensar que as energias renováveis são substitutas dos fósseis. Não necessariamente. No caso do carvão, a utilização de energia solar ou hidroelétrica (a fonte limpa par excellence) há um efeito direto de substituição, mas se falarmos do setor agrícola ou industrial a resposta é diferente, porque os fósseis não são apenas energia, mas também matéria-prima.

Os fósseis representam cerca de 80% do consumo primário energético global e o seu consumo ultrapassa o consumo elétrico, e a agricultura moderna não consegue alimentar oito biliões de almas sem fertilizantes como a amónia, que vem essencialmente dos hidrocarbonetos.

O terceiro mito é acreditar que a transição energética pode ser rápida. Em alguns países ou regiões vai ser, como na UE, mas em outras regiões, como a Ásia, o consumo por fósseis continua e vai continuar a crescer, e por isso é que decisões ou políticas unilaterais de certos países ou regiões não resolvem o aumento das temperaturas no planeta.

O combate às alterações climáticas é um exemplo da tragédia dos comuns, se o globo inteiro não coordenar as suas ações é impossível encontrar uma solução.

O quarto mito é acreditar que a transição energética vai ser limpa. Não vai, porque a procura por minerais, de acordo com a Agência de Energia Internacional (a principal fonte de autoridade em matéria de energia), vai aumentar 500% nas próximas duas décadas, e a maior parte dessa mineração vai ser intensiva, destrutiva do ambiente e em regiões do mundo onde o quadro regulatório é fraco.

O caso ilustrativo é a produção de Cobalto na República Democrática do Congo em condições sub-humanas, com a destruição total do ecossistema local.

Em suma, a transição energética é uma transição para os minerais que não se encontram no mundo ocidental (e/ou OCDE em geral), com exceção da América do Norte e da Austrália. Essencialmente, o mundo está a transitar de um mundo fóssil para um mundo assente nos minerais raros (que a China produz em 90%) e minerais críticos (como o cobre ou o manganês), e essa dependência é ignorada no espaço público.