Com a Cimeira da NATO terminada é tempo de balanço. Não correspondeu às aspirações de Kiev. Para grande desalento do Presidente Zelensky, não foi ainda desta vez, que a Ucrânia se tornou membro da Aliança. O comunicado final da Cimeira não alude a quaisquer datas de adesão. Nem as inócuas garantias de segurança dadas pelos países do G7 poderão ser, mesmo com muita vontade, consideradas uma vitória.
Para além das declarações de ajuda militar à Ucrânia por parte de alguns Estados-membros da Aliança, a Cimeira não veio alterar aquilo que 16 meses de guerra começam a tornar evidente. A Ucrânia luta numa guerra que não consegue vencer, sendo incapaz de derrotar militar e estrategicamente a Rússia. Stoltenberg descaiu-se e foi tremendamente claro. Se a “Ucrânia não prevalecer [militarmente], a adesão não será, de modo algum, discutida.” Ou seja, para ser membro da NATO Kiev tem primeiro de derrotar militarmente a Rússia.
A ofensiva lançada por Kiev, no início de junho, não produziu em Vilnius os efeitos políticos ambicionados. Pelo contrário, está a trazer à tona de água a incapacidade de recuperar o seu território sob controlo russo, e consequentemente de atingir os seus objetivos estratégicos. Não será, pois, de estranhar que John Kirby tenha dito o óbvio. A Aliança não pode aceitar, nesta altura, a adesão de Kiev, sem colocar a NATO em guerra com a Rússia.
Contudo, parece que o processo de adesão não está apenas pendente da oportunidade ou da circunstância. Segundo o Presidente Biden, a adesão ocorrerá quando “satisfizer as condições”. Kiev não terá um tratamento privilegiado. Se é verdade que num eventual futuro processo de adesão, a Ucrânia não terá de se sujeitar a um “Membership Action Plan”, também é certo que terá de continuar a submeter-se aos designados “Programas Anuais Nacionais”, através dos quais a NATO escrutina o progresso das reformas democráticas que Kiev tem de implementar, nomeadamente no setor da segurança e defesa.
A criação do Conselho NATO-Ucrânia tem fundamentalmente um valor simbólico e visa reforçar o diálogo político, como já tinha acontecido em 1997, com a Charter on a Distinctive Partnership e com a criação da Comissão NATO-Ucrânia. O Conselho reforça a importância que a Aliança atribuiu à sua parceria com Kiev, mas não mais do que isso. Não altera, por exemplo, a necessidade da Ucrânia se submeter anualmente a uma avaliação, nem representa um passo na direção da adesão.
Insistir-se que “O futuro da NATO é na Ucrânia”, é fingir não perceber o motivo por que nos encontramos em guerra. Esta Cimeira foi apenas mais um compasso de espera numa decisão definitiva que evita a todo o transe reconhecer o óbvio.