Tenho que começar este artigo com uma declaração de intenções: pela minha condição, não sou neutra em relação ao estado da Universidade no nosso país.
Desde que o actual Governo entrou em funções que a discussão em torno da Universidade se tem adensado. Para o bem e para o mal, este debate engloba aspectos importantes ainda que muito pouco consensuais. O término ou não da precarização na Universidade e da forma como a Fundação para a Ciência e Tecnologia tem gerido o investimento em Ciência pelo investimento em projectos e investigadores está no centro dos argumentos e das possíveis soluções. A assunção é a de que, bandeira deste governo, se deva aumentar a produção científica em Portugal e, para tal, que se integrem investigadores nas universidades. Falou-se em grandes investimentos, entre os 2,7% e os 3,3% do Produto Interno Bruto. Até aí tudo bem, são óptimas notícias… mas, como tudo em políticas públicas, não é assim tão simples atacar um problema antigo, complexo e com incentivos institucionais variados.
Ao integrar investigadores nas universidades, ganha o país e ganham as universidades. Mas então porque é que tal não aconteceu até hoje em maior escala? A resposta mais rápida é a vontade política, ou a falta dela. Mas nem só de tal se alimenta este problema: em tempos de aperto económico investir em educação, ciência e conhecimento vai, erradamente na minha opinião, sempre por “água abaixo”. E tal acontece, especialmente no que diz respeito às ciências sociais e humanas. Afinal, o que não dá lucro imediato e visível corta-se em tempos de crise. Mas num país com uma democracia jovem, como é a nossa, ter cientistas sociais a questionar parâmetros antigos (sociais e políticos) torna-os(nos) mais necessários, torna-os(nos) mais dispensáveis.
O problema é multicausal e como tal assim deve ser tratado, todavia, não permitir que, dada a sua complexidade, as soluções sejam congeladas por entre critérios, cenários, desculpas e arranjos mais ou menos opacos, não pode ser outra vez o caminho. Para termos um país melhor temos que ter melhor educação a todos os níveis. A Universidade é um desses degraus. A Universidade tem de continuar a modernizar-se e a quebrar os gritos dos “velhos do Restelo” do costume. Deixemos as estruturas institucionais que já não resultam de parte, larguemos a “tradição má”, deixemos de defender o nosso próprio quintal por oposição a defender o quintal de todos. É importante dar boas condições de trabalho às gerações seguintes, integrar novo sangue, com novas ideias, com desafios diferentes. Penso que, por isso mesmo, esta vontade política ainda é, por entre sussurros, tão temida.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.